Animais de Circo

18 de setembro de 2008

Bichos têm que se ‘virar nos trinta’ para sobreviver ao circo, ao Ibama e à Justiça A operação para resgatar animais de um circo, em Brasília, transformou-se em pesadelo para dezenas de bichos e conseguiu deixar desidratado até um camelo. Depois de viajarem numa carreta de Brasília a Campo Grande (MS), percorrendo mais de dois… Ver artigo

Bichos têm que se ‘virar nos trinta’ para sobreviver ao circo, ao Ibama e à Justiça


A operação para resgatar animais de um circo, em Brasília, transformou-se em pesadelo para dezenas de bichos e conseguiu deixar desidratado até um camelo. Depois de viajarem numa carreta de Brasília a Campo Grande (MS), percorrendo mais de dois mil quilômetros, estes animais chegaram totalmente estressados  ao Zôo da Capital da República. A operação “resgate” do Ibama para salvar os animais de maus-tratos se revelou ainda mais torturante,  devido a liminares judiciais. Apesar de um pônei ter morrido, duas dezenas de animais “amestrados”, que tinham sido apreendidos no Le Cirque, em meados de agosto, passam bem. Os últimos animais a chegar ao Zoo foram um rinoceronte branco macho, ameaçado de extinção, e um elefante africano macho. O embarque em Campo Grande foi vistoriado por uma equipe da Polícia Federal, para dar cumprimento à ordem do juiz federal Clorisvaldo Rodrigues, da 1ª Vara Federal de Campo Grande.
 
Foram travadas diferentes batalhas, no front do Judiciário, que autorizou o Ibama recolher elefantes, rinoceronte, girafas, pôneis, zebra, llanas e dois camelos que haviam sido levados para Campo Grande escondidos pelos donos do circo. Após denúncias de maus-tratos contra os animais e uma ação, frustrada do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que ameaçou um flagrante.
Quem saiu ganhando com as trapalhadas e com a ação descabida do Judiciário, que autorizou a transferência dos animais para uma chácara na periferia da capital sul-matrogrossense, foi o Zoológico de Brasília.
 O diretor Raul Gonzalez (veja sua entrevista) já se prontificou a ficar com todos os bichos, caso a Justiça se pronuncie a favor da permanência deles em zôos. “É claro que temos todo interesse em ficar com os animais. Nós teremos de tomar algumas providências para melhorar a estrutura de que dispomos, mas certamente, Brasília e o zoológico, só têm a ganhar com isso”, afirma Gonzalez. “Só um louco não gostaria”, resume o diretor.
 Gonzalez brilha os olhos quando fala da chegada dos novos moradores ao zôo brasiliense. “Nós já tivemos um aumento de pelo menos 15% de freqüentadores desde a chegada dos primeiros animais retirados do Le Cirque”, diz.
 “Estamos tendo um cuidado especial, disponibilizando rações e cenoura, e veterinários que vão acompanhar os primeiros dias de estadia dos animais no zoológico”, salienta Raul Gonzalez que aposta numa recuperação gradativa. “Aparentemente, estão todos bem”, comemora. Embora os bichos ainda precisem passar por uma bateria de exames médicos quando será possível apontar com precisão o estado de saúde de cada animal.
 Quem está muito feliz é a Yuli, uma hipopótamo fêmea que trocou uma minúscula banheira, no Le Cirque, por um imenso lago com água corrente.


Histórico das denúncias
Em agosto, o Ibama recebeu denúncias de maus-tratos a animais do Le Cirque, que estava armado a pouco mais de dois quilômetros do Ministério do Meio Ambiente. Com um mandado de busca e apreensão, o instituto queria a guarda temporária dos animais, mas o proprietário do circo conseguiu uma liminar na 3ª Vara Criminal da Circunscrição Especial de Brasília que autorizava a retomada da posse.
O dono do circo retirou os animais de Brasília, em 16 de agosto. Com a derrubada da liminar, o Ibama fez uma nova operação de apreensão dos animais no circo, mas já não encontrou mais nenhum deles., que foram levadas para Campo Grande.
 Veterinários que examinaram os animais na chegada de Campo Grande, se surpreenderam com Xuxa, uma elegante camela, capaz de encantar a todos.
 Acostumada a sobreviver até oito dias sem beber água, Xuxa chegou em Brasília abatida, nem de longe lembrava a exuberante camela que animou milhares de crianças que frenquentavam o Le Cirque.
 “A Xuxa passou três dias, depois da viagem, para se levantar. Seu estado era grave. Quando chegou ao zoológico demonstrava sinais de desidratação”, disse o veterinário Ezequiel Spíndola. Para o chefe da Divisão de Fiscalização do Ibama, Antonio Ganme, Xuxa apresentava sinais de anemia profunda e insuficiência renal. “Sem dúvidas, esse quadro é resultado dos maus-tratos sofridos nos últimos anos.” A mesma sorte não teve um dos dez pôneis que morreu no trajeto da viagem.
A operação coordenada pelo Ibama está longe de ser considerada de sucesso. Não bastam boas intenções para a instituição ter resultados positivos. Os animais não tinham espaço adequado no circo e lá também não é lugar para bicho. Mas a ação do Ibama estressou os bichos, que passaram duas semanas viajando de um lado ao outro sem repouso e no pior período de seca no Centro-Oeste. Tão grave, que até um camelo ficou desidratado.


 







 Um lembrete: No início deste ano, fiscais do Ibama apreenderam 100 minhocuçus na Feira do Paraguai, em Brasília. No dia seguinte estavam todos mortos por desidratação.


 


Divulgação


A polícia ambiental tomou conta da área enquanto técnicos do Ibama recolhiam os animais.


 


 


 


 


 


Chocolate é um elefante africano, mais forte e mais inquieto do que seus colegas indianos. Ele vai receber uma área só para ele no Zoo.


 


 


 


 


A veterinária do Zoo de Brasília teve que dar soro para a camela Xuxa, bastante desidratada pela longa viagem.


 


 


 


 


 


Yuli, uma hipopótamo fêmea, trocou uma minúscula banheira no circo por um imenso lago com água corrente.