ENTREVISTA – Raul Gonzalez Acosta

18 de setembro de 2008

Raul Acosta, Diretor do Zoo de Brasília Raul Gonzalez Acosta, 54 anos, diretor do Jardim Zoológico, tem uma vida dedicada aos animais. Economista, Raul nasceu no México, mas desde a primeira vez que veio ao Brasil com seu pai, não quis mais voltar para o México. Naturalizou-se brasileiro e “este é o meu País”, costuma… Ver artigo


Raul Acosta, Diretor do Zoo de Brasília


Raul Gonzalez Acosta, 54 anos, diretor do Jardim Zoológico, tem uma vida dedicada aos animais. Economista, Raul nasceu no México, mas desde a primeira vez que veio ao Brasil com seu pai, não quis mais voltar para o México. Naturalizou-se brasileiro e “este é o meu País”, costuma dizer. Acosta já foi diretor e três vezes presidente da Sociedade de Zoológicos do Brasil. Profissional respeitado, entra governo e sai governo, Raul continua na linha de frente do Zoológico de Brasília  elogiado por técnicos,  ambientalistas e visitantes. O Zoo de Brasília é uma referência nacional. Conta hoje com mais de 1.300 animais. E a taxa de renovação natural das espécies, ou seja, a reprodução tem crescido a cada ano. Em 2000, o número de nascimento era de 15% do total de bichos. No ano seguinte, saltou para 25%. E em 2007 alcançou um recorde: 33%. Portanto, ninguém melhor para explicar estas questões sobre o uso de animais nos circos e na tevê.


FMA – Como o senhor vê o uso de animais – selvagens ou não – em circos?
Raul Acosta – No meu modo de ver, todos os animais têm que ter o respeito e a proteção do homem e não devem ser submetidos a ações contrárias  a sua biologia ou as condições de vida que não são  próprias de sua  espécie. Nem devem ser submetidos a ambientes de estresse, mesmo que seja para  entreter ou divertir o homem. Para isso temos artistas  humanos maravilhosos, super-talentosos  que devem ser valorizados  e reconhecidos pelo seu valor. Animais não foram feitos para isso. Alem do que, os circos não têm a mínima condição de ofertar qualidade de vida aos próprios animais em função das características da vida nômade que levam.


FMA – E como o senhor vê o uso de animais – selvagens ou não – nos programas de TV? 
Raul – Como dissemos, os animais não foram feitos para serem artistas. Eles devem ser respeitados como são. O bom na tevê é assistir apenas aos documentários que nos trazem conhecimento de como é a vida deles no seu habitat. Como se comportam, como é a biologia das espécies. É pelo conhecimento que vamos poder ajudá-los na sua conservação e na preservação de suas características naturais.


FMA – O fato dos animais estarem presos, enjaulados ou acorrentados, deveria bastar para que os circos fossem impedidos de abrirem suas portas?
Raul – Os circos precisam abrir as portas para os grandes artistas humanos. Animais têm seus lugares próprios de viver. Ou nas grandes reservas ou nos Jardins Zoológicos.


FMA – O circo recorreu à Justiça e obteve uma liminar que diz não haver maus tratos. Um laudo elaborado a partir da fiscalização atesta o contrário. Falta sensibilidade à justiça para estas questões?
Raul – Acho que as pessoas que elaboram  os laudos devem deixar bem explícito o que é maus tratos. Um juiz que estudou leis e não estudou biologia, pode não entender que não basta só alimentar um animal. Eles  como nós, precisam conviver com outros de sua própria espécie, precisam ter sua biologia, anatomia, fisiologia respeitadas. Como você coloca um elefante de mais de 3000 kg equilibrando-se em cima de um tamborete? É óbvio que isso trará sérias conseqüências àquela espécime, pois está indo contra sua própria natureza. Todos os elefantes em circos possuem problemas graves em suas articulações. Isso não é maus tratos? O homem, para seu divertimento, vaidade e para saciar sua ânsia de acumulação de capital, faz com que um animal que na natureza anda muito, fique preso, suba em um banquinho, etc… causando seqüelas graves, dores crônicas para o resto de sua vida… A pessoa que faz o laudo tem que deixar bem explícito todos esses fatos para que o juiz use adequadamente as leis.


FMA – Segundo Ricardo Gondor Junior, do Le Cirque, todos os animais entraram no País legalmente, são documentados e têm autorização do Ibama. E não teria como  se desfazer de animais que estão no circo há 50 anos…
Raul – O que podemos constatar na documentação do circo  que tivemos  acesso pelas fichas de vistoria do Ibama, nenhum dos animais está com eles há 50 anos.  O que está a mais tempo é a elefanta Madras, adquirida em 1966. Os demais estão há poucos anos. Eles podem ter a documentação de entrada dos animais, mas não possuem documentação sanitária obrigatória para estar mudando de estado para estado, de cidade para cidade colocando em risco nossas defesas sanitárias contra doenças como febre aftosa, anemia infecciosa eqüina, tuberculose etc.


FMA – O advogado Luiz Sabóia argumentou que os maus tratos são o que os fiscais fizeram, deixando os animais três horas sem água…
Raul – Com todo o respeito, o advogado deveria estar mais por dentro do que significa maus tratos para poder defender a contento seus clientes.


FMA – Os circos perderiam sua popularidade se detalhes dos tratamentos dos animais fossem amplamente divulgados?
Raul – Com certeza! Por isso mais uma vez enfatizamos que está na hora de mudarmos nossos conceitos e investirmos mais nos talentos humanos, na capacidade humana de representar e levar alegria aos espectadores.


FMA – Há vários projetos de lei no Congresso para colocar ordem no picadeiro. O que diz a lei brasileira hoje?
Raul – Infelizmente não temos uma legislação própria para circo, mas temos um das melhores legislações ambientais do mundo. E a nossa constituição garante  a proteção e o direito a vida de todas as espécies.


FMA – E qual seria uma boa lei para coibir tantos abusos?
Raul – É só seguir a Constituição Brasileira e a Lei de Crimes Ambientais.


FMA – Como o senhor vê hoje as condições dos zôos brasileiros?
Raul –  Infelizmente temos muitos zoológicos brasileiros em condições precárias necessitando de modificações profundas em suas estruturas e em seu modo de atuar.


FMA – Quais os parâmetros de um zoológico ideal?
Raul – Um zoológico ideal é aquele que dá aos animais um recinto mais próximo possível de seu habitat, respeitando as características biológicas  e o comportamento de cada espécie. Para ser um Zôo eficiente há que trabalhar com a conservação, pesquisa científica,  lazer e educação ambiental.


FMA – Num ranking de competência, eficiência e sustentabilidade quais os melhores zoológicos do Brasil?
Raul – Acredito que dentre os melhores estão os de Belo Horizonte, Brasília, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Sorocaba, Bauru.


FMA – Tem algum zoológico modelo no mundo?
Raul – Existem alguns zoológicos nos Estados Unidos e Europa que conseguiram recriar o habitat dos animais, de modo que o animal fique isolado das pessoas vivendo naturalmente, com tranqüilidade  e segurança.