A viagem pelas trilhas do cânion

25 de maio de 2009

           A viagem mesmo começou para valer a partir de Buriti dos Montes, município a 250km de Teresina. Era a primeira vez que um grupo de ambientalista embrenhava-se pelas margens do rio Poti para seguir seu curso a partir de onde começa o cânion, na cidade de Ibiapaba-CE. A expedição passou pelo médio cânion em… Ver artigo

           A viagem mesmo começou para valer a partir de Buriti dos Montes, município a 250km de Teresina. Era a primeira vez que um grupo de ambientalista embrenhava-se pelas margens do rio Poti para seguir seu curso a partir de onde começa o cânion, na cidade de Ibiapaba-CE. A expedição passou pelo médio cânion em Buriti dos Montes-PI, até chegar ao baixo cânion em Castelo do Piauí. Em muitos trechos não havia como seguir margeando o rio devido aos obstáculos como mata fechada ou serras intransponíveis. O jeito então era procurar desvios. O grupo era formado por 16 pessoas. Além dos carros, havia duas bicicletas e dois barcos. A saída de Buriti dos Montes foi logo de manhã. No segundo dia, o destino era Ibiapaba, porta de entrada para o cânion. A viagem curta fora embalada pelo o conforto do asfalto e pela beleza da Serra da Ibiapaba. Depois, foram quatro dias peregrinando por cenários que inclui morros e paredões de mais de 300 metros, de onde do topo se pode apreciar o rio correndo rápido e estreito serpenteando a base das serras. A beleza dos paredões é indescritível. Parecem proteger um rio límpido, formando uma bacia singular. É justamente esta bacia onde será construída a barragem denominada Lago de Fronteira. Os ambientalistas já se manifestaram contra a barragem.
Do povoado Ibiapaba, o rio segue para o oeste ladeado pelos maciços norte e sul da cordilheira da Ibiapaba. O lugar é fantástico pela imensidão da serra e exuberância da vegetação. A florada do Ipê roxo estava no auge. Um espetáculo único.


Os currais de pedra
          O segundo pernoite foi na comunidade Curral de Pedra, em solo piauiense (Buriti dos Montes). A singularidade e o exótico estão nos currais construídos de pedras para o descanso de bois e boiadeiros no início do século XVIII.
Os currais ainda estão lá, embora hoje tenham perdido a importância pelo surgimento de outras vias. Mas vale a pena conhecer o lugar que tem um cenário deslumbrante.
Nessa noite o grupo aproveitou os encantos da lua cheia e o prazer da brisa fria para ouvir as estórias do agricultor Francisco Raimundo da Silva. Com 68 anos, ele e sua família falaram das lendas e das crendices da região.  
         A próxima parada foi na comunidade Bebedouro onde estão os primeiros sítios arqueológicos. Nesse trecho,  a viagem foi cansativa devido aos duros obstáculos.
Sem estrada, lagoas para atravessar, pedras deram um novo ritmo à aventura. Mas veio a surpresa: as gravuras rupestres extraordinárias chamam a atenção pela precisão dos traços e símbolos até então indecifráveis.


Tradição Itaquatiara
Segundo Benedito Rubens, Coordenador de Turismo do município de Castelo e chefe da expedição, pesquisadores da Universidade Federal do Piauí já catalogaram as gravuras que estão associadas à  tradição Itaquatiara (pedra pintada na língua tupi).
São desenhos que lembram figuras cósmicas e onduladas. Alguns pesquisadores arriscam dizer que esses lugares eram sagrados, destinados aos cultos dos povos que viveram às margens do rio há pelos menos 6.000 anos. Após algumas horas desfrutando das belezas do Bebedouro, a expedição seguiu para a fazenda Espírito Santo, onde se ouviu falar de um santuário da vida silvestre. Cravada num platô, às margens do rio, o lugar é de uma beleza sem limites. De um lado, uma vegetação típica de transição, e do outro, o rio Poti corre estreito entre pedras serras, paredões e campos abertos. Ali estão as mais belas e diversificadas gravuras rupestres da tradição Itaquatiara.


“As gravuras rupestres extraordinárias, chamam a atenção pela precisão dos traços e símbolos até então indecifráveis”


As gravuras rupestres extraordinárias, chamam a atenção pela precisão dos traços e símbolos até então indecifráveis



 


Mapa da expedição


1 – Saída de Teresina
2 – Pernoite em Buriti dos Montes
3 – Pernoite Fazenda Curral de Pedra
4 – Pernoite Fazenda Espírito Santo
5 – Visita ao cânion da Pedalta, final da expedição


 


Fotos: Juscelino Reis


Os paredões, as gargantas e as rochas são cheias de escavações provocadas pela correnteza


 


 


 


 


 


No canion do rio Poti,  tudo impressiona pela dimensão e pelo visual. As gargantas e as rochas são cheias de escavações provocadas pela correnteza


 


 


 


Os vaqueiros compõem e dão o toque humano à paisagem do cânion do rio Poti


 


 


 


 


 


A margem direita do rio Poti, pela Conceição dos Marreiros


A rota, a partir dali, foi pela margem direita do Poti passando pela comunidade Conceição dos Marreiros até se chegar a Cachoeira da Lembrada, no médio cânion. Era a região mais esperada. Transpor o trecho foi muito difícil, por pouco não foi perdido o motor da D20 na travessia nas águas fortes do Poti. Em Conceição dos Marreiros, uma parada rápida para ver mais gravuras, mais pedras, serras e interagir com os ribeirinhos.  Faltava pouco para se chegar a Cachoeira da Alambrada, uma monumental queda d?água de mais de 30 metros. Daí em diante, tudo impressiona pela dimensão, pelo visual dos paredões de 50, 60 metros. O lugar é propício ao ecoturismo, aos esportes radicais e, simplesmente, à contemplação.


A barragem e o rio


Quanto a Barragem de Castelo, anunciada pelo governo do Estado no início de 2008, nada foi realizado até então. Ainda no fim do ano passado o Ministério das Minas e Energia suspendeu as obras de recursos hídricos para o Piauí e Maranhão, relacionadas ao Plano de Aceleração do Crescimento-PAC. Somente para o Piauí o plano preve oito hidrelétricas e uma dezena de barragens. Entretanto, a Barragem de Castelo é um sonho antigo do governo que, desde 1988, tenta colocar em prática. Em 2001  houve nova tentativa com a liberação de recursos para inicio da obra, entretanto,  os trabalhos não iniciaram por ter sido liberado somente parte dos recursos.  Em 2003, outro edital de licitação foi lançado e tudo estava pronto pra iniciar a obra quando a Curadoria do Meio Ambiente do Estado exigiu o EIA/Rima do empreendimento que não constava do projeto. Mais uma vez parou tudo. Quando for construída, a área inundada será de 150 km², toda a beleza cênica do cânion ficará submersa.