Parque Ecológico Bernardo Sayão

A estrada que fere o Cerrado

25 de maio de 2009

Argos e o embaixador César Amaral visitam o Parque Ecológico do Rasgado, no Lago Sul de Brasília, em 2003. Hoje a unidade se chama Parque Ecológico Bernardo Sayão, em homenagem ao engenheiro que ajudou o presidente JK na construção de Brasília. Sayão morreu com a queda de uma árvore quando abria a Belém-Brasília   Ao… Ver artigo

Argos e o embaixador César Amaral visitam o Parque Ecológico do Rasgado, no Lago Sul de Brasília, em 2003. Hoje a unidade se chama Parque Ecológico Bernardo Sayão, em homenagem ao engenheiro que ajudou o presidente JK na construção de Brasília. Sayão morreu com a queda de uma árvore quando abria a Belém-Brasília


 


Ao arrepio da lei e às vésperas da eleição de 2002, a pista foi aberta em linha reta ligando condomínios irregulares a um bairro regularmente constituído, e o Governo se dispôs a asfaltá-la. Os moradores do Lago Sul entraram com uma representação junto ao Ministério Público por se tratar de uma via que feria o traçado original do bairro e que colocavam em risco os moradores em face da pequena largura das vias na QI-27. A via, entretanto, fazia parte do loteamento irregular Chácara Mansões do Lago, que foi denunciado pela imprensa e desconstituído pelo então governador Roriz para a criação do Parque Ecológico do Rasgado. Os amigos da natureza puseram-se à frente na defesa do cerrado e contra a abertura de uma via irregular. A Folha do Meio Ambiente, na edição 139/Julho 2003, publicou uma matéria sobre o Parque Ecológico do Rasgado. O que está ainda em jogo é a preservação da natureza bucólica do bairro. Existe um processo sobre a via na Terracap que, se lido com acuidade, pode-se ver claramente que a preocupação maior era com a degradação urbanística e ambiental. O Governo não devia alterar o plano urbanístico do bairro sem ouvir a comunidade em audiência pública.
O Ministério Público conseguiu liminar para a paralisação das obras, mas a Novacap derrubou a decisão com o argumento de que a passagem deveria permanecer aberta até a conclusão da Via Expressa, entregue à população no ano passado. A despeito do empenho dos moradores do Lago Sul em preservar a qualidade de vida do bairro, a consolidação da rua gerou uma situação injusta. Causou grande tumulto no trânsito das vias internas do Lago Sul, transformando-o em passagem e cristalizando uma alternativa para adiamento da via expressa, necessária para o acesso dos condomínios à ponte JK.
Hoje não há mais razão nenhuma para continuar a existir essa língua de asfalto entre a DF 001 e a QI 27 (Lago Sul), uma vez que existe uma via moderna, com seis pistas de rolamento, sem vias transversais e com limite de velocidade de 80 km/h. A faixa de asfalto que corta o Parque Ecológico Bernardo Sayão, tornou-se desnecessária e inconveniente. A lei que a criou foi julgada inconstitucional.
A pista que degrada o parque corta uma região com 226 hectares, riquíssima do ponto de vista ecológico, onde ainda há vida silvestre e muitas nascentes. Resta saber quem vai ser responsabilizado por mais essa degradação. Contudo, é a sua posição privilegiada no mapa do DF que torna esta área muito cobiçada pelos especuladores imobiliários. E a via em questão é a pista central do loteamento desbaratado pelo Ministério Público.
É imprescindível proteger o cerrado original sem dar margem à grilagem e especulação e, também sem se ater a subterfúgios de oportunistas com vistas ao lucro fácil.  O Governo ao criar o parque tentou eliminar uma ameaça à segurança do bairro, mas ainda não retirou a via que serviu de variante para a construção da ponte e da via expressa. O Governo está consciente dos inconvenientes causados por essa alteração do plano urbanístico do Lago Sul por uma rua não aceita pela comunidade. É dever de o Estado devolver ao bairro seu traçado original. Quando do término da Via Expressa o trânsito por dentro do parque deveria ser feito só por funcionários do próprio Parque Ecológico.


Reinvidicação


A população do Lago Sul, em Brasília, reclama por uma cerca definitiva que possibilite ao Estado cumprir a missão de preservar a natureza. O DF possui 93 % do seu território constituído de áreas protegidas decretadas por Lei. Os parques ecológicos são bens públicos, mas sendo área de conservação ambiental devem ser protegidos dos que queimam e dos que fazem de depósito de lixo e de entulhos.  Em 1997 não havia nem picada onde hoje  temos uma pista ligando a HI-104 a EPCT (DF-001).
Os vendedores de lotes de condomínios irregulares resolveram que o asfaltamento de uma via perpendicular daria uma boa apresentação aos seus argumentos de vendedores. O asfaltamento de uma área da APA do Paranoá iria consolidar uma situação irregular, pois só traria benefícios para os condomínios criados clandestinamente.  A estrada que corta uma área e se tornou uma das regiões mais valorizadas do DF, graças à construção da Ponte JK. O parcelamento do parque seria altamente prejudicial ao bairro e a todo ordenamento territorial do DF.  (AFC)