Guardião da Vida

Tonhão do Rio Preto

13 de outubro de 2009

Antônio Augusto “Tonhão” de Almeida: o prefeito que criou um parque, deixou a política partidária e virou um herói da política ambiental     Fotos  –  Marcos Vinícius Bortolus   A imponência e a beleza da água cristalina da Cachoeira do Crioulo       PARQUE ESTADUAL DO RIO PRETO O parque está localizado na… Ver artigo

Antônio Augusto “Tonhão” de Almeida: o prefeito que criou um parque, deixou a política partidária e virou um herói da política ambiental


 


 


Fotos  –  Marcos Vinícius Bortolus


 


A imponência e a beleza da água cristalina da Cachoeira do Crioulo


 


 


 


PARQUE ESTADUAL DO RIO PRETO


O parque está localizado na Serra do Espinhaço, no
município de São Gonçalo do Rio Preto, a 350km de
Belo Horizonte. A origem do município remonta a uma sesmaria pertencente ao Contratador dos Diamantes João Fernandes de Oliveira, famoso por seu romance com Chica da Silva.


Desde o século XVIII, São Gonçalo, conhecida como Rio Preto, era um dos principais produtores de alimentos para os garimpeiros do Arraial do Tijuco (hoje Diamantina) e região. O município emancipou-se de Diamantina em 1962. O nome Felisberto Caldeira, uma homenagem ao contratador de diamantes Felisberto Caldeira Brant, vigorou até meados da década de 1980, quando um plebiscito permitiu que seus habitantes retomassem a antiga denominação. Diante da ameaça do garimpo, uma lei municipal de 1991 transformou o rio Preto em rio de preservação permanente.


Entrevista – Tonhão do rio Preto


Folha do Meio – Tonhão, você sabe que seu depoimento é histórico. É também um registro didático e vai servir de lição para muita gente. Como você se interessou pela questão ambiental?
Tonhão – Olha, sempre me interessei pelos problemas ambientais. Ao assumir a prefeitura de São Gonçalo do Rio Preto, em 1989, fizemos da causa ambiental uma prioridade. Preocupados com a degradação do Rio Preto, uma lei municipal de 1991 o declarou de preservação permanente. Por esta ação, a população do Rio Preto recebeu em 1991 o Prêmio Curupira, da Fundação Biodiversitas.  Mas sua cabeceira ainda permanecia vulnerável às atividades de garimpo e de carvoaria. Apresentamos então ao IEF proposta de reconhecimento de uma área de proteção para as nascentes do rio, que culminou com a criação do Parque Estadual do Rio Preto, em 1994.


FMA – Quais as dificuldades encontradas na administração de uma área preservada em uma região de tradição extrativista não com o garimpo e as carvoarias mas também com as famosas florzinhas sempre-vivas?
Tonhão – No início, não foi fácil… Em região extrativista, falar de preservação é sempre difícil. Tivemos problemas com caçadores, criadores de gado em sistema extensivo na região da Chapada do Couto, garimpeiros, coletores de flora – principalmente a sempre-viva –  e a alta incidência de incêndios florestais. Demolimos 17 fornos de carvão que estavam localizados nas proximidades de onde hoje estão os alojamentos. Aos poucos nossa disposição foi sendo reconhecida e as alternativas foram aparecendo. Não foi fácil, mas valeu a pena o esforço.


 


Vendi um pedaço para o Parque
e fiquei dono de tudo”.  


 DECO, um dos antigos proprietários
e que hoje trabalha no parque
.


 


FMA – Como os proprietários das áreas desapropriadas reagiram à criação do Parque?
Tonhão – Olha, não posso reclamar. Houve uma conscientização pela NE cessidade de se criar o parque. A verdade é que reagiram com confiança e cooperação. Toda esta mobilização, todo este sentimento pode ser resumido pelo depoimento de Deco, um dos antigos proprietários e que hoje é funcionário do Parque: “Vendi um pedaço para o Parque e fiquei dono de tudo”.


FMA – Geralmente a comunidade fica ressabiada com desapropriações. Você conseguiu unanimidade de visitantes, funcionários e da própria comunidade. Qual o segredo?
Tonhão – Para começar nós inicialmente procuramos as lideranças locais e mostramos a eles a importância de preservar uma área tão especial. Uma área única. Sempre procuramos aquelas pessoas de princípios, de boa índole e moralmente respeitadas pela comunidade. Os funcionários do Parque são pessoas da região, testemunhas da degradação e da diminuição dos recursos naturais do Vale do Jequitinhonha. A maioria viu o garimpo retroceder, verificou a destruição que as carvoeiras trouxeram e a diminuição das florestas. Viram o d  desaparecimento de espécies antes abundantes. O Parque aliou a oportunidade de trabalho à necessidade urgente de conservar o que ainda havia. Daí para frente, o espírito conservacionista desses funcionários evoluiu e funcionou como um fermento para a comunidade e para os visitantes.


FMA – Como está a proteção das nascentes dos rios Araçuaí e Jequitinhonha Preto – um dos braços formadores do Jequitinhonha?
 Tonhão -Não está longe não. Já temos projetos elaborados com o levantamento da área. Esta torcendo muito e acho que logo teremos uma boa notícias,  pois deverá ser efetivado.


FMA – Ainda há risco? Quais os riscos que o Parque corre hoje?
Tonhão – Veja como uma árvore em pé ou a preservação de uma nascente e a proteção da flora e fauna são fatos importantes não só ecologicamente ,mas também economicamente. A especulação imobiliária despertada pela valorização que o Parque causou na região acarreta por vezes uma inconseqüente ocupação das terras adquiridas em seu entorno. Mas há outras preocupações e riscos, como: projetos de reflorestamento com eucaliptos em áreas de nascentes; Os incêndios florestais, apesar de ocorrerem com menos freqüência em grande parte por causa de uma equipe atenta de brigadistas, agora mais experientes, também nos deixam tensos no período da seca.
 
FMA – Quais os projetos futuros, qual o seu sonho para o Parque Estadual do Rio Preto?
Tonhão – A gente nunca está satisfeito. Sempre vê mais necessidades e sempre quer aprimorar a gestão de um parque. Estamos tentando ampliar ainda mais a área do Parque do Rio Preto. Queremos também implantar um corredor ecológico que ligará o Parque Estadual do Rio Preto ao Parque Estadual do Itambé. Este corredor, além de salvar uma fauna rica, vai permitir  a proteção das nascentes do Rio Araçuaí, nos municípios de Felício dos Santos, Serra Azul de Minas e Rio Vermelho. Do Rio Jequitinhonha Preto, nos municípios de Diamantina, Serro e Couto de Magalhães de Minas; E do Rio Manso, nos municípios de Couto de Magalhães de Minas e Diamantina.
Outra atividade que não descuidamos é no desenvolvimento do turismo sustentável nas comunidades existentes no entorno do Parque. Além de educar e conscientizar, vai dar renda e salário para toda esta gente que nos ajuda a preservar.


 


Canarinho-da-terra: beleza e um canto singular


 


 


 


 


A formação rochosa no córrego das águas


 


 


 


Lages, pedras, água e mata: receita de encanto


 


 


O Parque


O Parque Estadual do Rio Preto foi criado em 01 de junho de 1994. Administrado pelo IEF-MG, o parque é  é uma importante reserva de diversas espécies de animais e plantas. A história do parque está ligada às lendas e mitos dessa antiga área de mineração. No lugar, segundo relatos, se escondiam escravos fugidos que conheciam bem suas matas e rochas por haverem trabalhado na construção da Estrada Real. Muitos conseguiram se safar das perseguições dos capitães-do-mato e se juntar a quilombos no interior da Bahia. O parque tem um bom plano de manejo e boa estrutura para receber visitantes. Turistas e pesquisadores chegam ao parque para desenvolver trabalhos, promover encontros e até mesmo para fazer ecoturismo. Mais informações:
IEF-BH: (31) 3295.7086  – (31) 3295.7514 em Diamantina: (38) 3531.3919