ALBERTO CAEIRO: o enigma em Pessoa

10 de fevereiro de 2010

POETA  DA NATUREZAFernando Pessoa soube gerar uma nova vida e produziu poetas de carne e osso. E de estilos diversos. Tal qual como Álvaro Campos e Ricardo Reis, também Alberto Caeiro tinha sua biografia: nasceu em Lisboa (1889) e morreu tuberculoso (1915). Sem pai e nem mãe, viveu com uma tia-avó. Era louro de olhos… Ver artigo

POETA  DA NATUREZA
Fernando Pessoa soube gerar uma nova vida e produziu poetas de carne e osso. E de estilos diversos. Tal qual como Álvaro Campos e Ricardo Reis, também Alberto Caeiro tinha sua biografia: nasceu em Lisboa (1889) e morreu tuberculoso (1915). Sem pai e nem mãe, viveu com uma tia-avó. Era louro de olhos azuis e tinha apenas instrução primária.
Alberto Caeiro viveu no campo como guardador de rebanhos. Escrevia intuitivamente. Era um poeta bucólico que entende a natureza para usufruir e não para pensar. Vê a realidade de forma objetiva e natural. Aceita-a tal como é, de forma tranqüila, sem necessidade de explicações. Tem um verso livre, bem coloquial e espontâneo. Trata do quotidiano e sua linguagem é fluente, simples e natural. Deus está em todas as coisas: “Deus é as árvores e as flores/ E os montes e o luar e o sol…” Alberto Caeiro leva e canta uma vida sem dor. Um envelhecer sem angústia e um morrer sem desespero.
Fernando Pessoa cria uma biografia para Caeiro que se encaixa com perfeição na sua poesia. Interessante: o próprio Fernando Pessoa observa que os 49 poemas da série “O Guardador de Rebanhos” foram escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem interrupções.



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“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque sou do tamanho
do que vejo e não, do tamanho da minha altura”


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Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
(…)


(…)
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar…


Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças – tinha só que ter rodas…
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco…
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.


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(…) Poucos sabem qual é o
rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence
a menos gente,
É mais livre e maior
o rio da minha aldeia.


Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou
no que há para além
Do rio da minha aldeia.


O rio da minha aldeia
não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele
está só ao pé dele.


 



Veja na próxima edição:
Fernando Pessoa inventa poetas
e vidas: RICARDO REIS


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Saiba Mais


O que é heterônimo, homônimo e pseudônimo?


Heterônimo – A palavra vem do grego: heteros = diferente onyna = nome. Heteronímia é o estudo dos hererônimos ou seja, estudo de autores fictícios. Heterônimo então é uma personagem fictícia, criada por alguêm, mas com vida quase real, com biografia própria, totalmente diferente de seu criador. O criador de hetêrônimo, como Fernando Pessoa, é chamado de ortônimo.


Homônimo (homos = igual + onyma = nome) Pessoa que tem o mesmo nome de outra. Ou, palavras que se pronuncia e/ou escreve da mesma forma que outra, mas de origem e sentido diferentes.


Pseudônimo significa nome falso, ou seja, um nome fictício usado por alguêm como alternativa ao seu nome legal.