Traficantes “legais”

Vítimas preferidas pelos traficantes

15 de fevereiro de 2010

Fascínio das AVES “Se existem homens que caçam e matam, existem também aqueles que fazem de seu trabalho pelas aves um meio de vida.” Revista VEJA denuncia que de cada dez anilhas distribuídas pelo Ibama, pelo menos sete acabam nas mãos de traficantes de aves A revista Veja faz uma denúncia grave e que, de… Ver artigo

Fascínio das AVES


“Se existem homens que caçam e matam, existem também aqueles que fazem de seu trabalho pelas aves um meio de vida.”


Revista VEJA denuncia que de cada dez anilhas distribuídas pelo Ibama, pelo menos sete acabam nas mãos de traficantes de aves


A revista Veja faz uma denúncia grave e que, de certa forma, já era do conhecimento de ambientalistas e fiscais ambientais: traficantes descobriram um jeito de burlar os fiscais e tornar o transporte de aves mais fácil. Em reportagem de Marina Yamaoka, a revista explica que “o novo método consiste em “esquentar” pássaros retirados da natureza, inserindo neles anilhas de identificação do Ibama – uma espécie de atestado de legalidade que os criminosos compram de criadouros autorizados. Como não há fiscalização sistemática desses criadouros, a proprietários mal-intencionados basta solicitar ao instituto um número de anilhas superior àquele necessário para identificar os filhotes nascidos no estabelecimento e usar o resto para abastecer o estoque dos traficantes. De cada dez anilhas distribuídas pelo Ibama, pelo menos sete acabam nas mãos de traficantes de aves silvestres, admite o instituto”.


O tráfico de animais silvestres é tão grave e tão grande quanto o tráfico de armas e de drogas, chegando a movimentar alguns bilhões de dólares por ano. Segundo Dener Giovanini, da Renctas (1) outros dois aspectos facilitam as ações dos traficantes: 1) O tráfico de animais ainda é um crime tolerado pela sociedade e pouco autuado pelos órgãos fiscalizadores. 2) O lucro é grande e a punição ainda é muito branda. Enfim, azar do papagaio, do curió, do canário-da-terra, da arara-azul, do azulão, do pintassilgo…


O que é anilhar uma ave


Em 1899, na Holanda, o pesquisador Cristopher Mortensen foi o primeiro a utilizar-se de um método de marcação de aves. Ele queria entender porque
aves apareciam e desapareciam em algumas épocas do ano. Começou a usar, então, vários materiais como fitas e até mesmo anéis de ouro
 para marcar as aves.  Foi aí que se descobriu que elas viajavam longas distâncias do seu local de origem.


Com esses indícios, Cristopher Mortensen viu a necessidade de aumentar os esforços de marcação para entender esse fenômeno de deslocamento periódico, conhecido como migração. “As anilhas (anéis de alumínio ou aço) que utilizamos hoje – explica a bióloga Andreza Amaral – são colocadas no tarso das aves, por pessoas treinadas, servindo como uma carteira de identidade do animal. Nesta plaquinha constam uma letra e cinco números que jamais se repetem”.
Segundo técnicos do Cemave, a técnica de anilhamento tem sido cada vez mais utilizada pela comunidade científica mundial, demonstrando o amplo espectro de objetivos para os quais se podem empregar as anilhas. “Através do anilhamento de aves é possível realizar diversos estudos relacionados à dispersão, migração, comportamento e estrutura social, dinâmica de populações, sobrevivência, sucesso reprodutivo, monitoramento ambiental, toxicologia e manejo”, explica Andreza Amaral. “Mesmo com a implantação de novas técnicas, como a utilização de rádio-transmissores e a colocação de microchips, pesquisas apontam o anilhamento como técnica de monitoramento primordial para a conservação das aves que possuem alta capacidade de responder às modificações ambientais, caracterizando-se como excelentes indicadores da qualidade de um ambiente”, salienta a bióloga Inês Serrano do Nascimento.
Os anilhadores utilizam-se de redes ornitológicas, puçás e armadilhas para capturar as aves e em seguida, tomam suas medidas e peso e observam se apresentam algum problema. Chegam a coletar, algumas vezes, até amostras de sangue para análise em laboratório, para identificar a qual espécie a ave pertence. E antes de devolver a ave à natureza, colocam o anelzinho na perna dela.


 


Como “esquentar” um pássaro: capturados pelos traficantes o papagaio-verdadeiro foi legalizado com uma anilha do Ibama alargada e presa ao seu pé


 


 


Ave vítma
de  traficantes
inescrupulosos
com anilha
presa ao pé


 


 


Sistema de anilhamento
O que é Sistema Nacional de Anilhamento de Aves Silvestres? O SNA envolve a coordenação e controle em nível nacional dos seguintes procedimentos:
• Credenciamento dos anilhadores (registro);
• Análise dos projetos de pesquisa e concessão das Autorizações de Anilhamento;
• Controle e distribuição das anilhas;
• Processamento dos dados de anilhamento;
• Recebimento e processamento das informações relativas ao encontro de uma ave anilhada (recuperação);
É bom salientar que o enfoque do anilhamento realizado pelo CEMAVE é essencialmente para aves em liberdade. Objetivos do trabalho:  pesquisa e monitoramento das aves silvestres. Portanto, tais características são bastante diferentes dos procedimentos utilizados na marcação e controle das aves nascidas ou criadas em cativeiro, zoológicos, criadouros, etc, procedimentos estes que são controlados pelo Ibama.


Saiba mais


Você sabia que as aves se alimentam de pragas que atacam plantações, atuam no combate aos ratos, cobras e insetos, e ainda polinizam flores e espalham sementes?
• Você sabia que os maçaricos brancos e os de peito vermelho são espécies migratórias que embora pesem no máximo 100 e 250g respectivamente, conseguem voar longas distâncias, chegando a 7 mil km ininterruptos.
• Você sabia que todo ano, entre agosto e outubro, dezenas de milhares de aves do Hemisfério Norte migram para o Brasil à procura de comida e de um clima favorável?
• Você sabia que um maçarico anilhado por técnicos do Cemave nas Reentrâncias Maranhenses em 10/05/2001, foi encontrado capturado, apenas 11 dias depois por pesquisadores americanos, em Delaware, EUA?
• Você sabia que algumas espécies migratórias chegam a percorrer 20 mil km entre o Canadá (tundras canadenses) e a Terra do Fogo, na Argentina?
• Você sabia que durante o vôo migratório as aves se orientam pelas estrelas e pela lua e ainda aproveitam as correntes de ar, chegando a atingir uma velocidade de até 65 Km/hora?


GLOSSÁRIO


RENCTAS – Fundada em 1999, a Renctas é uma Ong, que combate o tráfico de animais silvestres. Baseada em Brasília-DF, desenvolve suas ações em todo o Brasil, por meio de parcerias com a iniciativa privada, o poder público e o terceiro setor.  renctas.org.br


ANILHAS – As anilhas (anéis de alumínio ou aço) são colocadas no tarso das aves, por pessoas treinadas, servindo como uma carteira de identidade do animal. Nesta plaquinha constam uma letra e cinco números que jamais se repetem.


Cemave:  33 anos de serviços prestados


O Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres é uma unidade descentralizada do Instituto Chico Mendes com atuação em todo território brasileiro. O Cemave foi criado em 1977 ainda pelo IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, sob a denominação de Centro de Estudos de Migrações de Aves. Objetivo: organizar e implantar no país um sistema de anilhamento de aves voltado prioritariamente à geração de informações sobre aves migratórias que subsidiassem ações governamentais para a sua conservação, atendendo o compromisso brasileiro no âmbito da Convenção de Washington (1948).



Cerca de 600 canários-da-
-terra (anilhados) apreendidos pelo Ibama
e a Polícia Rodoviária Federal quando eram transportados por um casal na BR-060, na divisa Goiás/DF, são levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres


 


Nestes 33 anos do Cemave, já foram anilhadas milhões de aves, Não só os cientistas, mais também qualquer pessoa pode ajudar neste esforço de conservação. Já houve, também, muitas recuperações de anilhas estrangeiras. Aliás, as pessoas que relatam tais recuperações, recebem um certificado nominal de agradecimento, oficial do Cemave, onde constam o nome comum e o científico da ave, bem como os dados de anilhamento e os de recuperação (local e data do anilhamento/recuperação, sexo e idade da ave).
A bióloga Andreza Amaral, uma apaixonada pelas aves, gosta de dizer algumas verdades que vale a pena lembrar: entrar numa mata, percorrer praças e bairros isolados, praias desertas e outros ambientes à procura do maravilhoso mundo das aves, tem sido utilizado como uma válvula de escape e alívio ao estresse das cidades, um canal de religamento do homem com o mundo natural. “Nada mais belo do que ver, ouvir e curtir uma ave em seu habitat natural…”
Aliás, lembra a bióloga Andreza Amaral: “Quem nunca quis “estar livre como um passarinho?” Ou “quem ainda não usou a expressão estou pronto para voar”? A verdade é esta, a sensação que as aves passam: simplicidade e liberdade de ir para onde quiser. “Vale a pena pensar nisso tudo antes de aprisionar uma ave”, conclui Andreza.