Folha do Meio Ambiente

“Melhor estar longe do brilho da cidade,
da ilusão do progresso,
da cobiça do homem
 e da falsa bondade.”

Espécies diferentes despertam mais atenções pelo visual do que pela freqüência. Já não me lembro quando ocorreu este diferencial. Não sei se era dia ensolarado, nublado ou chuvoso. O fato é que um deles se aconchegou no convívio do quintal e partiu sem dar chances para uma aproximação. Fiquei imaginando a razão de sua visita e do seu cantar angelical, que resplandeceu tudo de felicidade. Suas cores provocaram um bem estar cromoterápico. Em sua perspicácia, bebeu e se alimentou das dádivas existentes. Preferiu os lugares arborizados e fez dos galhos sua passarela, desfilando hábitos e comportamentos.
Indignou-me a sua rápida partida, mas entendi o seu livre arbítrio. Gostaria de vê-lo outra vez e compartilhar mais intensamente a sua liberdade. Se em poucos instantes provocou tanta sensação, que comoção não provocaria em tempo integral?
Existem outros lugares onde ele possa desfrutar sua vida rústica, na real natureza. Não será um pequeno espaço de quintal que o fará ser uma figura notória e sua vida não poderá ser influenciada pela pequenez de um território artificial. Melhor estar longe do brilho da cidade, da ilusão do progresso, da cobiça do homem e da falsa bondade.
Ainda assim, gostaria de vê-lo outra vez, transmitir-lhe confiança e uma segura estadia. Quem sabe, ele intensificaria o seu cantar, que se elevaria em sonata e atrairia dádivas de preservação.
É como disse Johan Dalgas Frisch em seu livro, Os Doze Cantos do Brasil: “Que estas histórias e estes cantos fiquem gravados na memória das pessoas de boa vontade e que desperte nelas o amor que nossas aves merecem, é tudo quanto podemos desejar”.