Fernando: o enigma em Pessoa

23 de março de 2010

Ricardo ReisEscrever é a arte de criar e de fantasiar. E Fernando Pessoa foi assim: criou personagens e fantasiou estilos e biografias à vontade. É o próprio Fernando Pessoa quem diz: “O Dr. Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite”. E explica: Ricardo… Ver artigo

Ricardo Reis
Escrever é a arte de criar e de fantasiar. E Fernando Pessoa foi assim: criou personagens e fantasiou estilos e biografias à vontade. É o próprio Fernando Pessoa quem diz: “O Dr. Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite”. E explica: Ricardo Reis nasceu no Porto, estudou com os jesuítas e formou-se em medicina. Era latinista e semi-helenista. Monarquista convicto, se exilou no Brasil, em 1919.
Depois que Ricardo Reis se refugiou no Brasil, ninguém mais teve notícias dele. Mas no meio do caminho tinha outro gênio: José Saramago. Tão logo soube da morte de Fernando Pessoa, em 1935, Saramago, com sua prodigiosa imaginação, escreveu “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Saramago fez então Ricardo Reis voltar a Lisboa depois de ter vivido 16 anos no Rio de Janeiro. Ao voltar, encontra uma Lisboa transformada que vive sob o regime salazarista. O Ricardo Reis pessoano é recriado na imaginação de Saramago que perde algumas características básicas, motivo de cobrança para Fernando Pessoa que ressurge do mundo dos mortos: “você afinal desilude-me, amador de criadas, cortejador de donzelas (…)”.


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Para ser grande
Para ser grande, sê inteiro: nada 
          Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és 
         No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda 
        Brilha, porque alta vive.


Cada Coisa
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. 
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.


À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.
(…)


Domina ou Cala
Domina ou cala.  Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias?  Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido.


Quer Pouco
Quer pouco: terás tudo. 
Quer nada: serás livre. 
O mesmo amor que tenham 
Por nós, quer-nos, oprime-nos.


 


Segue o teu destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.


A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
(…)


Próxima edição: Fernando Pessoa inventa
poetas e vidas Álvaro de Campos




Saiba Mais


O que é heterônimo, homônimo e pseudônimo?


Heterônimo – A palavra vem do grego: heteros = diferente onyna = nome. Heteronímia é o estudo dos hererônimos ou seja, estudo de autores fictícios. Heterônimo então é uma personagem fictícia, criada por alguêm, mas com vida quase real, com biografia própria, totalmente diferente de seu criador. O criador de hetêrônimo, como Fernando Pessoa, é chamado de ortônimo.
Homônimo (homos = igual + onyma = nome) Pessoa que tem o mesmo nome de outra. Ou, palavras que se pronuncia e/ou escreve da mesma forma que outra, mas de origem e sentido diferentes.
Pseudônimo significa nome falso, ou seja, um nome fictício usado por alguêm como alternativa ao seu nome legal.