RENOVAÇÃO DE ECOSSISTEMAS

O mistério da biodiversidade

20 de setembro de 2010

Migração das Plantas As plantas viajaram, viajam e viajarão sempre. As plantam migram por si só ou por muitos outros fatores. Podem migrar pelo vento, pelo mar, pelos rios, no ventre de aves e animais ou até mesmo pelas mãos do ser humano. É um verdadeiro entra-e-sai de ecossistemas, de países e de continentes. O… Ver artigo

Migração das Plantas


As plantas viajaram, viajam e viajarão sempre. As plantam migram por si
só ou por muitos outros fatores. Podem migrar pelo vento, pelo mar, pelos rios, no ventre de aves e animais ou até mesmo pelas mãos do ser humano.
É um verdadeiro entra-e-sai de ecossistemas, de países e de continentes. O trigo europeu, o milho americano ou o arroz asiático praticamente fornecem 60% da comida de todo o planeta. As caravelas espanholas, holandesas, inglesas e portuguesas vieram à América buscar ouro e prata. Mas voltaram à Europa com uma carga muito mais preciosa: sementes e bulbos de batata, mandioca, feijão e tomate. Como também foram as caravelas que trouxeram para a América o café, a cana-de-açúcar, a banana, a laranja, a manga e o arroz. Foi este espetacular trânsito de sementes e mudas e a maravilhosa migração de plantas que aumentou a biodiversidade, espantou o fantasma da fome e padronizou a dieta mundial.



 


 


 


 


 


 



 Algumas espécies produzem e lançam ao ar milhares de minúsculas sementes que o vento se encarrega de transportar e depositar sobre áreas deflorestadas.


 


 


 


 



 


As plantas, como os homens e os animais, migram, invadem e colonizam territórios


 


 


 


 



Existe a migração natural e a migração feita pela mão do homem provocada
pelas viagens até inter-continentais.


 


 


 



 


 


 


 


 


 


 



 


 


 


 


 


 


 


PLANTAS COSMOPOLITAS


Mas o que é uma migração de plantas? Vamos ao exemplo de uma sementinha conhecida como maple. Esta semente tem a interessante capacidade de se soltar da árvore e descer num vôo tranquilo e estável até chegar ao chão, onde poderá se desenvolver em nova árvore. Ela tem apenas uma ?asa? e sempre intrigou os pesquisadores. Inspirados nessa característica das sementes maple, estudantes da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, conseguiram desenvolver um veículo aéreo capaz de planar suavemente ao ser lançado de um avião, de algum local alto ou mesmo arremessado com as mãos – e ele faz isso justamente imitando o ?voo? da maple. Para falar e explicar este fenômeno, entrevistamos um profissional tão arquiteto como botânico, conhecido dos nossos leitores, chamado Carlos Fernando de Moura Delphim.


 



Espécies invasoras, tanto vegetais quanto animais, é a segunda causa responsável pela perda de diversidade biológica no planeta.


 


 


Entrevista


Carlos Fernando de Moura Delphim



 O arquiteto e paisagista Carlos Fernando é por demais conhecido dos leitores da Folha do Meio. Formado pela UFMG e técnico do IPHAN,  Moura Delphim é membro da Comissão de Patrimônio Mundial da UNESCO e trabalha com projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico. É discípulo de Burle Marx e, hoje, o paisagista favorito de Oscar Niemeyer.


Folha do Meio – O vôo da maple é interessantíssimo, mas o que é uma migração de plantas?
Carlos Fernando – Primeiro vamos falar do vôo da maple. As primeiras tentativas de replicar a capacidade de planar das sementes de maple datam de 1950. Até agora, todas essas tentativas haviam fracassado pela falta de controle sobre o vôo dos veículos. Ou seja, os pesquisadores levaram quase 60 anos utilizando inteligência e tecnologia para replicar o desempenho mostrado pela semente de maple desde sempre… Design inteligente inspira design inteligente.


FMA – E como podemos explicar a migração de plantas?
Carlos Fernando – A gente, quando fala em planta, vem logo a sua  aparente condição de imobilidade. De definitiva fixação à terra. Mas as plantas, como os homens e os animais, migram, invadem e colonizam territórios, transportam-se e se fazem transportar para diferentes ambientes daqueles onde tiveram origem, muitas delas tornando-se cosmopolitas. E olha que estamos falando apenas da migração natural, não da viagem das plantas provocadas pelo ser humano.


FMA – Podia dar alguns exemplos?
Carlos Fernando – Os veículos transportadores destas sementes são os mais variados. As sementes recorrem a tudo o que estiver a seu alcanse para ser disseminadas. Algumas espécies como os manacás-da-serra e quaresmeiras produzem e lançam ao ar milhares de minúsculas sementes que o vento se encarrega de transportar e depositar sobre áreas desflorestadas onde rapidamente crescem recompondo a vegetação.
Outras soltam ao ar sementes de porte maior junto com chumaços de algodão ou de leves painas voadoras que as conduzem ao acaso até que caiam sobre um terreno favorável a sua germinação. Algumas se utilizam de estruturas perfeitas e diáfanas como as das sementes de dente-de-leão.


FMA – E as plantas aquáticas?
Carlos Fernando – As plantas aquáticas, também as de brejo ou de beira-rio atiram suas sementes as águas e deixam que sejam levadas pelas correntes. Aí vão conquistar territórios cada vez maiores. É o caso do lírio-do-brejo, um parente do gengibre que invadiu quase todas as áreas úmidas do país e que impede o desenvolvimento de qualquer outra espécie nativa.


FMA – E há casos mais pitorescos?
Carlos Fernando – Tem sim. Veja por exemplo os carrapichos e os picões, cujas sementes colam-se às penas das aves, aos pelos dos animais e às roupas humanas, sendo levadas para longe da planta mãe. Outras, quando ingeridas por animais têm as sementes engolidas e depois depositadas em locais mais distantes como ocorre com grande parte dos frutos.


FMA – E tem aquelas que explodem e mandam as sementes longe…
Carlos Fernando – Isso mesmo. Isto mostra que mesmo quando não dispõem do apoio desses veículos para sua dispersão, estas plantas tem mecanismos especiais.
É o caso da maria-sem-vergonha e o beijo-de-frade. Estas plantas atiram as sementes para locais bem longe daqueles onde se instalou a planta mãe, aumentando assim o território da espécie. Essas duas espécies explosivas dispõem de uma estrutura que, quando tocada ou após ter amadurecido, dispara como mola retesada que voltasse a sua posição original, lançando as sementes bem longe da planta mãe, o que lhes valeu em outras línguas o nome de impaciência.
 
FMA – Pelo visto, no caso de frutos comestíveis, o transporte de sementes traz vantagem para a planta e para os dispersores…
Carlos Fernando –  Tanto homens como animais escolhem sempre os frutos mais bonitos e apetitosos nos locais onde vão coletá-los, seja na selva seja em um supermercado.
O homem primitivo, ao voltar a seu assentamento e abrigos, deposita as sementes junto com as fezes em novos espaços que acabam por serem colonizados por esses frutos. Isto provoca uma melhoria genética nas espécies: sementes de frutas maiores dão origem a plantas produtoras de frutas igualmente grandes e bonitas. Por isto, paisagens ditas naturais com preponderância de uma ou mais espécies frutíferas podem não serem naturais, mas terem sido involuntariamente criadas pelo homem. Isso pode ser comprovado por pesquisas arqueológicas em vizinhanças de assentamentos ou rotas de grupos primitivos.


As plantas podem se tornar invasoras


FMA – Muitas vezes esta migração não é maléfica? Plantas invasoras às vezes não é ruim?
Carlos Fernando – É sim. Espécies invasoras, tanto vegetais quanto animais, é a segunda causa responsável pela perda de diversidade biológica no planeta. As perdas econômicas decorrentes dessas invasões representam 5% da economia global. Essas perdas, em áreas cultivadas, aproximam-se dos 250 milhões de dólares. Em sítios naturais, ultrapassam 100 bilhões de dólares.


FMA – Espécie invasora é o mesmo que exótica?
Carlos Fernando – Não. Uma coisa é espécie invasora e outra é espécie exótica. A invasora é aquela que pode danificar ecossistemas, habitats e espécies nativas. As espécies exóticas não são obrigatoriamente danosas e dependemos delas para a maioria de produtos que consumimos sob a forma de alimentos, tintas, fibras, madeiras, couros, artefatos, medicamentos e tantos outros usos.


FMA – E as chamadas ervas daninhas?
Carlos Fernando – Essas plantas podem receber diferentes nomes como ervas daninhas, plantas colonizadoras, plantas oportunistas, plantas invasoras. Muitas espécies vegetais crescem por toda a parte. É curioso andar por qualquer cidade para ver as mesmas plantas brotando em rachaduras das calçadas, no meio de canteiros ou terrenos baldios.
Sem elas a cidade seria mais quente e deserta. Muitas podem ser utilizadas como medicamentos como o quebra-pedra e a trançagem, como alimento como a serralha e a beldroega ou como flores ornamentais como o dente-de-leão.


FMA – Então não são indesejáveis?
Carlos Fernando – De jeito nenhum. Quem com elas convive, não as desdenha. Foi o caso de São Francisco de Assis que, amando todas as criaturas e não desejando causar mal a nenhuma, criava um canteiro especialmente para replantar as ervas que retirava de seus canteiros de flores e hortaliças.


FMA – Esse negócio de causar danos a outras espécies ocorre também com os animais em relação às plantas?
Carlos Fernando – É verdade. Não são apenas as espécies vegetais, mas também animais causam danos a outras espécies vegetais. A introdução de um caramujo procedente da África, um escargot para consumo em restaurantes sofisticados, resultou em graves danos, tanto à flora nativa quanto às plantas cultivadas em pomares e quintais.
A princípio confinados em pequenos criadouros de fundo de quintais domésticos, não corresponderam às expectativas econômicas de seus criadores. Escapando dos viveiros, conquistaram novos territórios, tornando-se um dos mais vorazes predadores da vegetação no país.
Não se pode deixar de considerar que, mesmo existindo no Brasil uma legislação bastante rigorosa para avaliação de impactos de grandes empreendimentos, uma pequena intervenção aparentemente insignificante como esta pode ter resultados igualmente desastrosos. O mosquito da dengue, Aedes aegypti, é outro animal invasor que vem causando danos à saúde e à economia humanas.
FMA – São muitas as espécies vegetais que invadem territórios de outros países e continentes?
Carlos Fernando – Tem sim. Geralmente, estas plantas são  introduzidas com finalidades ornamentais ou econômicas. Acontece que sem os predadores naturais, elas proliferam livremente, alterando de forma irreversível paisagens inteiras e acabando por se tornar um traço da identidade local.


FMA – Tem exemplos?
Carlos Fernando – Tem muitos. Foi o que aconteceu com a Côte d? Azur onde as tamareiras e outras plantas exóticas introduzidas por ordem da Imperatriz Josefina acabaram por se aclimatar tão bem, a ponto de se tornarem subespontâneas e substituírem as espécies nativas. Outro exemplo é o coco-da-bahia, originário de Sri Lanka, de onde foi introduzido nas ilhas Fiji, Indonésia, Malásia e Filipinas, do qual já foram encontrados fósseis na Nova Zelândia e na Índia.Por ser um fruto flutuante e facilmente transportável pelas ondas do mar, dispersou-se ao longo de várias regiões costeiras tropicais, tornando-se uma marca típica do litoral do nordeste brasileiro e recebendo até o nome de côco-da-bahia, estado onde mais prolifera.


FMA – Como agir em relação a espécies exóticas, sobretudo as invasoras?
Carlos Fernando – Certos ambientalistas defendem posturas radicais contra qualquer espécie exótica.
Há casos extremos de xenofobia como o de um prefeito de Caxias do Sul que determinou a erradicação de uma aléia de alfeneiros, os Ligustrum japonicum, por serem de origem japonesa, mandando substituí-los por árvores nativas. Mesmo considerando ser uma planta sem grandes qualidades ornamentais, não há porque erradicá-la de uma praça pública, deixando-a sem qualquer condição de sombreamento. É melhor ter uma massa vegetal exótica a um vazio inóspito. Novas espécies brasileiras poderiam ter sido plantadas entre os alfeneiros enquanto se aguardasse sua morte por causas naturais.


FMA – Há casos de plantas que depois de um certo tempo precisa erradicar?
Carlos Fernando – Há muitos casos. Dois exemplos: em Nova Friburgo há uma praça tombada pelo IPHAN cujo projeto é de Glaziou, o paisagista trazido da França por Dom Pedro II. Sem conhecer as condições fenológicas dos eucaliptos, ele especificou o plantio de arbustos dessa espécie que acabaram por crescer desmesuradamente. Ficaram imensos..
 As árvores não precisariam ser eliminadas, bastaria uma poda de fuste para conferir-lhe o porte desejado por Glaziou. No entanto muitos querem erradicá-los definitivamente de uma praça onde eles constituem um elemento bastante original. Isto por se tratar de uma planta com a qual ambientalistas, justificadamente implicam, quando usados em reflorestamentos e monocultivos substituindo a diversificada flora nativa nacional, mas que nenhum mal causa no meio urbano.


 


“O mundo já não é mais virgem. Nada mais é puro sobre a face deste planeta e, apenas por não ser original de um lugar, não significa que uma planta deva ser banida dali onde se
instalou.”





 


 


 


 


 


 


 


Migração na decoração e culinária
Como poderia a culinária mundial passar sem alimentos sul-americanos como a mandioca, o milho, a batata-inglesa, o chocolate, o abacate, o mamão, as pimentas e pimentões, feijões e o abacaxi?


FMA – E tem  outros casos com necessidade de erradicação?
Carlos Fernando – O outro caso é polêmico, mas é igualmente ilustrativo. É a arborização da Esplanada dos Ministérios em Brasília. Plantaram-se tantas árvores, sem nenhum critério, em pleno coração da Capital, que acabou por gerar uma grande confusão. Pior: árvores exóticas e inadequadas estão tapando totalmente as fachadas dos Ministérios. A Esplanada, hoje, se assemelha mais a um sítio rural onde se cultiva, sem qualquer ordem ou técnica, um pomar misturado a um jardim, a uma horta, de um modo típico de quem desconhece a arte de lidar com a natureza e com a estética.


FMA – Em um mundo tão heterogêneo, posturas exageradas são muito perigosas. Isto pode existir também no paisagismo?
Carlos Fernando – Atitudes políticas equivocadas também podem existir no paisagismo. Por exemplo, paisagistas da Alemanha nazista recomendavam o expurgo de todas as espécies de vegetação exótica do país, contribuindo para a defesa de uma perigosa postura ideológica, uma perspectiva eugênica tão equivocada em relação ao ser humano quanto às plantas.
 Arquitetos e paisagistas como Gröning, Mäding, Seifert, Lange e Pertl, para os quais o exotismo era uma anormalidade, defenderam a eliminação sistemática de plantas exóticas dos jardins alemães. Pregavam a utilização de espécies indígenas e apropriadas ao habitat, saídas de sementes da melhor raça.


FMA – E como podemos entender um jardim sem rosas? Aliás, país rico como a Alemanha quando não tem rosa importa estas flores até aqui de Barbacena, em Minas…
Carlos Fernando – Isso mesmo, se pensarmos assim, nenhum jardim alemão ou mesmo ocidental poderia usar a rosa, a rainha das flores, uma flor de origem asiática, já cultuada há pelo menos quatro mil anos Antes de Cristo por assírios, babilônios, egípcios e gregos.


FMA – Isto acontece na decoração e também na culinária…
Carlos Fernando – Verdade, se os mestre cucas pensassem como os paisagistas do Führer, o que seria da culinária alemã? Sendo o trigo uma planta exótica, usada pelos egípcios há mais de seis mil anos, o que faria esse país sem o pão, a que chamam de ?brot?, um alimento do qual têm mais de 400 diferentes qualidades?
Que seria da culinária alemã e dos próprios alemães sem kartofel as batatas-inglesas, contudo originárias da América, mais exatamente do Peru? Sem as lingüiças e salsichas, por eles chamadas ?wurst?, feitas de porco, animal hibridado pelos chineses há cinco mil anos?
Quem pensa em culinária alemã pensa em chucrute, o ?sauerkraut?, uma conserva fermentada feita de repolho, hortaliça oriunda do Mediterrâneo. Também a videira é originária da região mediterrânea e do norte da Ásia.


FMA – Até a cerveja, a própria cevada…
Carlos Fernando – Sim, a própria cevada foi cultivada há mais de oito mil anos. Há mais de três mil anos se tem as primeiras referências à cerveja que chegaria posteriormente ao Egito que dominariam a tecnologia de sua fabricação, segundo mostram alguns hieróglifos, muito antes da planta chegar à Alemanha.
Se as idéias nazistas referentes aos jardins fossem aplicadas aos fluidos alcoólicos alemães, a bebida mais cara ao povo teutônico, a cerveja, seria expurgada do país e a Oktoberfest deixaria de atrair a Munique cerca de seis milhões de visitantes a cada ano.
Da mesma forma, o café, planta da Arábia, que tanto agrada ao paladar alemão quanto aquece suas finanças, jamais iria se constituir em uma atividade econômica tão importante para o país.


FMA – Não dá para expurgar espécies exóticas de nossos jardins, hortas e pomares?
Carlos Fernando – Não dá mesmo. Devemos hortaliças como a couve, alface, azeitona, repolho, brócolis, couve-flor, cenouras beterrabas e nabos à Europa. As cebolas, ervilhas e espinafres ao Oriente. Bananas, vagens e berinjelas à Índia.
As laranjas e tangerinas, originárias de Burma, foram trazidas à América, em 1493, por Cristóvão Colombo. Outros países asiáticos nos deram a soja, os rabanetes, maçãs, peras, pêssegos, damascos, cerejas, uvas. A África enriqueceu nossa alimentação com o quiabo e as melancia.


FMA – Como o Brasil, o mundo também não pode viver hoje sem as espécies exóticas que migraram para lá…
Carlos Fernando – Verdade, como poderia a culinária mundial passar sem alimentos sul-americanos como a mandioca, o milho, a batata-inglesa, o cacau-chocolate, o abacate, o mamão, as pimentas e pimentões, feijões e o abacaxi?
O que seria da cozinha italiana sem o tomate? O mundo já não é mais virgem. Nada mais é puro sobre a face deste planeta e, apenas por não ser original de um lugar, não significa que uma planta deva ser banida dali onde se instalou, salvo quando causam danos ambientais aos meios físico ou biológico, aos sistemas de produção ou à saúde humana.


 


“Devemos a hortaliças como
a couve, alface, azeitona, repolho, brócolis, couve-flor, cenouras beterrabas e nabos à Europa. As cebolas, ervilhas e espinafres ao Oriente. Bananas, vagens e berinjelas à Índia.”


 


FMA – Estava pensando nisto, sem exageros, há que se controlar a migração de plantas, não é?
Carlos Fernando – É lógico, para evitar uma série de problemas de saúde humana, de questões sanitárias e até de introdução de pragas e doenças. É preciso sim controlar a migração vegetal, sob risco de se ter um país todo invadido por espécies danosas à fauna e flora nativas. Isto acontece até com a migração de pessoas.
Muitos países têm uma política migratória claramente restritiva, expressa em leis. Tais leis podem ter origem em razões xenofóbicas ou motivos de política populacional, podendo estabelecer sistemas de cotas ou de migração seletiva, definindo características dos imigrantes como, por exemplo, seu país de origem.


FMA – E o que diz a Convenção Sobre Diversidade Biológica? Aliás, 2010 é o Ano Internacional da Diversidade Biológica.
Carlos Fernando – Boa lembrança. Para evitar danos ao meio ambiente, aos sistemas de produção e à saúde causados por espécies invasoras nocivas, o Brasil é signatário Convenção Sobre Diversidade Biológic (*1). O tratado tem por premissa o respeito à soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu território, estabelecendo normas e princípios que devem reger o uso e a proteção da diversidade biológica de cada signatário.


FMA – Quais os objetivos da Convenção Sobre Diversidade Biológica?
Carlos Fernando – São vários: a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos. Como? Mediante o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre esses recursos e tecnologias.
A Convenção propõe regras para assegurar a conservação e uso sustentável da biodiversidade, assim como justa distribuição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos genéticos.