CHI-CHI-CHI-LE-LE-LE - CHILE !

Vale lembrar, ainda, sobre os 33 mineiros que renasceram das pedras.

19 de novembro de 2010

Mais uma vez repito: eu gosto mesmo é de gente! Bendita espécie que se supera quando se encontra na beira do abismo. E melhor: a maioria não se atira nele, não! Tenta e tenta sempre a vitória.Acompanhei a tragédia dos trabalhadores presos na mina San José, no deserto de Atacama, desde o início. Torci muito…. Ver artigo

Mais uma vez repito: eu gosto mesmo é de gente! Bendita espécie que se supera quando se encontra na beira do abismo. E melhor: a maioria não se atira nele, não! Tenta e tenta sempre a vitória.
Acompanhei a tragédia dos trabalhadores presos na mina San José, no deserto de Atacama, desde o início. Torci muito. Mas quando soube que a rocha a ser perfurada era diorita, quase morri. Pensei logo: a coisa vai ser feia! Eu vi, no museu do Cairo, umas esculturas pretas e aprendi com o guia que esse mineral é um dos mais duros, depois do diamante. (A diorita é uma rocha mais ou menos como o granito.)
Passei a me envolver totalmente com o drama. Analisei a situação e resolvi dividi-la em dois segmentos:


1 – EM BAIXO e  2 – EM CIMA.


LÁ EM BAIXO, os 33 mineiros sabiam que o socorro era difícil. Mas eles tinham que ter uma certeza: que a busca não parava. Se não, estavam ferrados. Que bom! Demorou um tempo razoável. Foram 17 dias. E eles se suplantaram, agarrados num fio de esperança que chegou no 18º dia, por uma sonda que levou de volta aos “de cima” um bilhete:  “Estamos bem no refúgio, os 33”. Era a senha de um salvamento que durou 69 dias. E o que fizeram os “de baixo”?
Primeiro, elegeram um líder. Quem. Foi o mais forte? O mais novo? O mais bonito? O melhor preparado intelectualmente? De qual partido político? Com diploma universitário? De que religião? Nada disso pesou. Cada um votou no líder, que iria salvar a VIDA de todos. (Acho que devíamos pensar desta maneira em qualquer eleição, ou não?)
Luis Urzua, 54 anos, 30 anos como mineiro, chefe do turno, irmão arrimo que criou seis outros irmãos, querem mais?
Na primeira comunicação com os DE CIMA, o líder anunciou:
– Aqui é Urzua, chefe do turno. Quando é que vocês vão nos tirar daqui?
Fiquei tranquila. O cara é porreta e vai dar conta do recado.
O líder Urzua dividiu o poder com subchefes. (Delegar poder hoje em dia, só à beira da morte mesmo). E vieram as primeiras decisões.
Racionou a comida para menos de 100gr de proteína a cada dois dias e água só um copo/dia. Ninguém reclamou.
Todos cumpriam tarefas e a bendita rotina foi criada. Achei engraçado, pois tinha um que ficava com o dominó e o horário de diversão estava também estabelecido.
Todos dormiam, na mesma hora, para se manter o ritmo de vigília.
É bom lembrar que a organização continuou funcionando mesmo após a chegada da sonda. Eles permaneceram trabalhando e retirando o entulho provindo da perfuradora.
A decisão de quem iria subir primeiro já havia sido tomada há duas semanas antes do dia do resga. Alguém contestou? – Não!
Os primeiros serão os mais bem preparados tecnicamente (achei justo). Esses resolveriam melhor qualquer problema emergencial.
E Urzua? Não precisou ninguém falar nada.
– Eu serei o último! (Bonito, não?)


Lá EM CIMA, mineiros, donos da mina, governo, jornalistas, familiares, enfim, todos botaram a boca no trombone: precisamos de ajuda.
A lei da solidariedade ensina: sempre que pedires, terás a resposta. E a ajuda veio de todos os cantos do planeta. E o acampamento se fez. As tendas circundavam um buraquinho salvador com menos de 60 cm de diâmetro. Todos vieram para o deserto, num frio de rachar. Plantaram o pé e só sairiam depois do resgate.  Fantástico! A perfuradora chegou a eles antes, muito antes do previstoa. Os trabalhadores fizeram turno de 24 horas, chovesse ou fizesse sol. (Isto é força de expressão, pois lá não chove.)
 Falta falar do mais importante. O absolutamente imponderável. A Vila se chamou Esperança, a cápsula Fênix (aquela que renasce das cinzas), ao lado de bandeiras do Chile havia símbolos religiosos. Tanto lá em baixo como em cima todos rezavam. O s mineiros eram 33, a idade que Cristo morreu. Toda esta epopéia me lembrou uma das frases que mais gosto.
“Para se crer em Deus, não precisa ter fé. Basta ser lógico”. Adivinhem de quem é a frase? Só podia ser de Einstein.


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