Biodiversidade e ecoturismo

Parque Nacional da Serra das Confusões

15 de fevereiro de 2011

(André Pessoa – texto e fotos) A primeira observação é positiva: indica que a grande diversidade de fauna, flora e ecossistemas da região ainda se mantém intacto. Nos fundos dos vales e nas encostas de serras, plantas típicas da floresta tropical mostram-se com toda sua exuberância. Árvores de troncos grossos ultrapassam os 25 metros de… Ver artigo

(André Pessoa – texto e fotos)


A primeira observação é positiva: indica que a grande diversidade de fauna, flora e ecossistemas da região ainda se mantém intacto. Nos fundos dos vales e nas encostas de serras, plantas típicas da floresta tropical mostram-se com toda sua exuberância. Árvores de troncos grossos ultrapassam os 25 metros de altura. Ipês, paineiras, aroeiras, gameleiras e jacarandás compõem o cenário desse pedaço do semi-árido brasileiro mais conhecido pela miséria, devastação ambiental e constantes secas. No entanto, como mágica, nesse verdadeiro refúgio da Caatinga, samambaias cobrem imensos rochedos que minam água e bastam alguns dias de chuvas fortes sobre a mata seca para que a região fique coberta de flores e tomada por um verde surpreendente. Uma paisagem atípica na Caatinga nordestina, que se torna ainda mais extraordinária com os paredões, as chapadas, grutas, sítios pré-históricos e cânions que passam dos 100 metros de altura.


Patrimônio Natural
Esse imenso patrimônio natural, com áreas desconhecidas até mesmo dos mateiros e guardas florestais mais experientes, esconde uma outra riqueza tão importante quanto enigmática para a ciência. Nos abrigos rochosos do parque descobre-se, a cada expedição científica, sítios arqueológicos repletos de grafismos rupestres (pinturas e gravuras) e, em alguns casos, enterramentos humanos milenares. Registros que podem reforçar a tese de que o homem já habitava o Brasil muito antes da chegada dos colonizadores portugueses. No abrigo conhecido como Toca do Enoque, por exemplo, onde os pesquisadores da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), descobriram esqueletos humanos, ferramentas líticas, adornos, instrumentos do cotidiano desses povos ancestrais e muitas pinturas rupestres com idades variando entre 3.900 e 6.900 anos, o visitante parece voltar no tempo. ?Nosso objetivo é desvendar e conhecer a identidade desses grupos humanos? afirma a arqueóloga paulista Gisele Daltrini Felice, que participa das escavações no parque.



A riqueza da fauna encanta os turistas mais aventureiros


 


 


 


 


O pássaro cã-cã  é 
típico da caatinga baixa


 


 


 



 


Mandacaru reina na região


 


 


 


 


A boa nova


Porém, até bem pouco tempo atrás, essa maravilha da natureza que tem mais de 800 mil hectares, o equivalente a cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo, era conhecida de poucos privilegiados. Só podia ser visitada por pesquisadores, jornalistas, técnicos do Ibama e Instituto Chico Mendes (ICMBio) e integrantes de expedições ambientalistas ou científicas.
O motivo era simples: apesar de criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 21 de setembro de 1998, exatamente no dia da árvore (o decreto foi publicado no Diário Oficial da União no dia 02 de outubro desse mesmo ano) o parque nacional ficou mais de uma década fechado ao público por falta de estrutura. Enfim, a boa nova. Tudo parece mudar. Com um investimento de mais de R$ 1,4 milhão em obras, o Parque está sendo preparando para receber, com conforto e segurança, turistas do Brasil e do exterior.



A preguiça-de-chifres


 


 


 


 


Saiba Mais


Origem do nome
De onde surgiu a Serra das Confusões


E de onde vem o nome Serra das Confusões? Os mais antigos contam que, no passado,  durante o dia, o brilho das serras brancas e avermelhadas sob a intensa luz do sol, somado às ondulações das rochas, confundia os vaqueiros que se aventuravam a explorar a região. Durante a noite era impossível atravessar a área. A confusão era certa. Muitos aventureiros se perderam e muitas histórias e lendas são contadas até hoje. É justamente nesse trecho do Piauí que brota o rio que dá nome ao Estado.



A grande porta que se abre uma das cavernas mais visitadas


 


 


 


Fotos: André Pessoa



José Wilmigton Paes Landim, chefe do Parque Nacional da Serra das Confusões: a intenção é descomplicar.


 


 


Programa de manejo


Um centro para o turismo
Construção de Centro de visitação, passarelas, museus e guaritas.


A confusão ficará só no nome. O chefe do Parque Nacional da Serra das Confusões, o engenheiro agrônomo José Wilmigton Paes Landim, explica que a intenção é descomplicar. Diz que está em fase avançada de obras um moderno Centro de Visitantes e uma infraestrutura para receber os turistas. O Parque terá um auditório, sala de exposições e outros instrumentos de promoção turística, guaritas de vigilância e portarias de entradas, além de um pórtico e dois pequenos museus que vão retratar a vida do homem sertanejo na região antes da criação da reserva.


Um desses museus, na verdade um memorial, ficará na região conhecida como Andorinhas onde seus ex-moradores criavam gado e produziam farinha de mandioca.
O projeto, baseado em fotografias feitas ao longo dos anos, vai reconstruir uma pequena casa de farinha e pretende retratar, basicamente, a vida do homem naquela região. O outro espaço ficará na área conhecida como Muquém e vai mostrar detalhes do cotidiano dos vaqueiros que descobriram e desbravaram à região.
Outra ação de extrema importância para a abertura da reserva aos turistas é a reforma e o calçamento da principal estrada da área que dá acesso a gruta do Riacho dos Bois, um dos principais atrativos da Serra das Confusões. Espera-se ainda que em outra etapa do projeto sejam realizadas obras de sinalização e construção de passarelas nos sítios arqueológicos.
O turista tem que ser orientado para não comprometer o patrimônio natural. O investimento no Parque da Serra das Confusões é urgente, pois só assim será permitida a visitação pública prevista em seu plano de manejo.
Segundo o chefe da unidade, José Wilmigton Paes Landim, com as obras, os turistas e pesquisadores terão melhor acesso às formações rochosas, grutas, cavernas, sítios arqueológicos, nascentes de água mineral e aos paredões com inscrições rupestres.


No coração da Caatinga


Recentemente o governo federal decidiu ampliar em cerca de 300 mil hectares o Parque Nacional da Serra das Confusões (Veja BOX abaixo), o que contribuirá significativamente para o aumento da área protegida da Caatinga. Os estudos realizados mostraram que a região do entorno da Serra das Confusões, objeto de ampliação do parque, é muito especial para a biodiversidade da Caatinga e do Brasil.


A Caatinga é o único bioma restrito ao território nacional e, paradoxalmente, o que tem recebido menor atenção para sua proteção. Trata-se do ambiente brasileiro com menor área protegida por unidades de conservação. Segundo o ICMBio, apenas 1% dos mais de 85 milhões originais desse espaço natural está no interior de parques nacionais.
 A região abriga inúmeras espécies endêmicas, sendo encontradas 13 das 18 espécies de aves consideradas exclusivas da Caatinga, destacando-se a jacucaca (Penélope jacucaca), ameaçada de extinção. Também são encontradas espécies de animais de grande e médio porte já desaparecidas de outras partes do sertão nordestino, como a onça-pintada, o tatu-canastra e o tamanduá-bandeira.
Isso sem falar numa série de répteis que parecem saídos de um filme de ficção científica como o papa-vento e o pitoco, além de algumas espécies até bem pouco tempo desconhecidos pela ciência, caso da preguiça-de-chifres (Stenocercus squarrosus) e do cágado (Mesoclemmys perplexa).
Ambientalistas e técnicos em turismo estão entusiasmados com o novo Parque. Eles garantem que devido as suas belezas cênicas e a presença de ricos sítios arqueológicos, a ampliação do Parque Nacional da Serra das Confusões ajudará no incremento do roteiro ecoturístico que anualmente atrai milhares de turistas brasileiros e estrangeiros ao interior do Piauí, especialmente ao Parque Nacional da Serra da Capivara.
Estudos e depoimentos de moradores mostram que a existência dos parques nacionais na região tem contribuído para a geração de emprego e renda para a população local. Assim, segundo o presidente do ICMBio, Rômulo Mello, a ampliação do Parque Nacional da Serra das Confusões, se apresenta como uma excelente oportunidade de estimular a geração de emprego, renda e melhoria de qualidade de vida a partir da biodiversidade do  Semi-árido. 


Os pesquisadores descobrem ferramentas líticas, adornos e instrumentos do cotidiano desses povos ancestrais.


 


 


 


 Arqueóloca Gisele Daltrini Felice: “Nosso objetivo é desvendar e conhecer a identidade desses grupos humanos”


 


 


 


 


CADÊ O PARQUE?


Serra Vermelha fica de fora ?
O MMA liberou R$ 150 milhões, mas a confusão continua para salvar Serra Vermelha


Dia 30 de dezembro de 2010, o Diário Oficial da União publicou um decreto ampliando de 523 mil para 823,4 mil hectares a área do Parque Nacional da Serra das Confusões. Com essa medida o Piauí foi beneficiado com um crédito orçamentário de R$ 150 milhões, ?uma espécie de compensação para um Estado pobre?, justificou o presidente do ICMBio, Rômulo Mello. O problema, segundo pesquisadores e ambientalistas, é que a área de maior biodiversidade da região, conhecida como Serra Vermelha e que segundo o IBGE abriga remanescentes de Mata Atlântica, ficou fora do trecho preservado. Com isso, a empresa carioca JB Carbon S/A, que mantém o projeto Energia Verde, de produção de carvão vegetal, poderá retomar suas atividades e transformar 78 mil hectares da última floresta do semiárido em carvão para abastecer  siderúrgicas do Brasil e do exterior. O secretário de Meio Ambiente do Piauí, Dalton Macambira e o ex-governador, Wellington Dias (PT), afirmam não acreditar na ocorrência de Mata Atlântica na área e são acusados de beneficiar a empresa. O Ministério Público Federal investiga o caso.