Uruçuí-Una: negociação pode por fim à ocupação
20 de julho de 2011Foram quatro horas de negociação com os trabalhadores rurais. O INCRA e o ICMBio fazem uma proposta para as famílias de trabalhadores rurais que ocupam a Estação Ecológica no Sul do Piauí, há 30 anos. O lugar é de uma riqueza biológica magnífica. Nos vales e nas escarpas nascem rios, riachos e lagoas,… Ver artigo
Foram quatro horas de negociação com os trabalhadores rurais.
O INCRA e o ICMBio fazem uma proposta para as famílias de trabalhadores rurais que ocupam a Estação Ecológica no Sul do Piauí, há 30 anos.
O lugar é de uma riqueza biológica magnífica. Nos vales e nas escarpas nascem rios, riachos e lagoas, entre eles, o Rio Uruçui-Preto, o principal da região e um dos formadores da Bacia dos rios Gurguéia e Parnaíba. Por ser uma Estação Ecológica seu uso é somente para pesquisas cientificas e visitas educacionais. Porém, antes de ser criada, em 1981, na área viviam dezenas de famílias que nunca foram indenizadas e que continuam se multiplicando dentro da Estação e, logicamente, depredando os recursos naturais disponíveis.
Agora, quase 30 anos depois que essa história começou surge a possibilidade de resolver para onde vão as famílias que moram dentro da reserva. Para acompanhar o desfecho do conflito, nossa equipe percorreu mais de 800km entre até chegar à comunidade Prata, onde mais de 150 homens, mulheres e crianças se aglomeraram para ouvir as propostas INCRA e Instituto Chico Mendes-ICMBio.
Em alguns momentos as tensões surgiam mesmo veladas, devido à presença da Pastoral da Terra, mediadora do conflito. Os trabalhadores rurais temem serem transferidos para uma área de baixa ou nenhuma qualidade. Quatro horas depois que a reunião havia começado o Ouvidor Agrário do INCRA, Stânio Viera, dava sinal de que finalmente a solução fora encontrada. O INCRA sugeriu transferir as famílias para a fazenda Aroeira, vizinha de Uruçuí-Una, de 700 hectares. Segundo Stânio, as negociações estão chegando ao fim e garantiu que uma vez instalados na fazenda Aroeira o governo se compromete as construir casas, poços, escola, posto de saúde, campo agrícola e distribuir equipamentos e ferramentas para o trabalho na agricultura.
Paulo Nogueira Neto, primeiro titular da Secretaria Nacional do Meio Ambiente, foi o responsável direto pela criação da Reserva Ecológica Uruçuí-Una, ainda nos anos 70.
Paisagens deslumbrantes
A rotina de uma lavadeira da região.
A singularidade de Uruçuí-Una é o charme da paisagem. Nem mesmo a ocupação humana foi capaz de tirar a beleza que resplandece nos monumentos naturais como o Morro da Chaleira, considerado um dos mais altos do Estado, nos riachos que formam quedas dŽágua, nascentes límpidas na vegetação que muda de campos abertos para campos sujos e florestas fechadas com árvores gigantes.
Morro d?Água – Um dos locais que mais impressiona pela beleza cênica e abundância de água é o Morro dŽÁgua, a região fica isolado e poucos a conhecem. Ali, misteriosamente, de dentro de uma caverna com cerca de 40m de profundidade, brota uma água cristalina que jorra forte e volumoso formando um lago e segue construindo seu caminho por veredas fechadas, buritizais até desaguar no Uruçui-Preto.
Adailton José Alves é o único a viver ali com a mulher e seis filhos pequenos. Ele mora bem próximo ao Morro dŽÁgua há 23 anos e disse que ninguém nunca foi até o fim da caverna. A fauna é rica em Uruçuí-Uma.Um inventário feito pela Universidade de São Paulo-USP, em 2002, catalogou 412 espécies de vertebrados terrestres, entre eles a onça pintada, o lobo-guará e a anta. Na avifauna o destaque é para a arara azul, ameaçada de extinção, o azulinho e o soldadinho.
Perigo constante – O desmatamento ronda a reserva. Tanto para plantio ao redor da Reserva como por posseiros dentro da área protegida. Também o uso do fogo constitui uma ameaça. A reserva possui 76 famílias de posseiros habitam. Há também o repasse de posses à proprietários que desmatam extensas áreas para plantio de arroz e soja em seu entorno, com impactos diretos sobre a Estação. Outra ameaça é uma estrada clandestina de 30Km de extensão cortando a Estação sem nenhuma avaliação de impacto.
Reserva histórica do Piauí – A história de criação da reserva, remonta do início da década de 70. O governo federal, depois da primeira Conferência de Meio Ambiente realizada pela ONU, em 1972, em Estocolmo, tinha criado a SEMA – Secretaria Especial de Meio Ambiente, ligada ao Ministério do Interior. O professor Paulo Nogueira Neto, primeiro titular, leu no jornal O Estado de São Paulo que a União estava devolvendo ao Piauí as fazendas que Marquês de Pombal havia confiscado dos Jesuítas. Paulo Nogueira não pensou duas vezes. Foi a Teresina e convenceu ao então governador Alberto Silva a doar lhe ceder 200 mil hectares para criar uma Estação Ecológica. O governador cedeu apenas 135 hectares. Somente depois do acordo assinado embarcou para conhecer a área por terra e pelo ar. Segundo revelou, mesmo sem saber o que encontraria na região tinha certeza que se tratava de uma área especial, por ser transição entre Cerrado e Caatinga, Acertou em cheio. “Se eu tivesse esperado que fossem realizados estudos antes, tinha perdido a área”, disse referindo-se a grilagem de terras públicas muito comum no sul do Piauí.