COLUNA DO MEIO

26 de março de 2013

  Rio de Janeiro: uma “bomba” ambiental   A Folha do Meio, em novembro de 1996, fez um alerta: por duas vezes a cidade do Rio de Janeiro foi maquiada para esconder “bombas ambientais”. A primeira vez foi em 1992, quando o Rio se preparou para receber os 150 Chefes de Estado que chegavam para… Ver artigo

 

Rio de Janeiro: uma “bomba” ambiental
 
A Folha do Meio, em novembro de 1996, fez um alerta: por duas vezes a cidade do Rio de Janeiro foi maquiada para esconder “bombas ambientais”. A primeira vez foi em 1992, quando o Rio se preparou para receber os 150 Chefes de Estado que chegavam para a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a RIO-92; e a segunda vez foi no segundo semestre de 96, quando o Rio era candidato à sede dos Jogos Olímpicos de 2.004 e se preparava  para receber os membros do Comitê Olímpico Internacional que vinham fazer uma avaliação da cidade.
Maquiada duas vezes oficialmente e muitíssimas vezes oficiosamente, o Rio de Janeiro, uma pena, começou a entrar numa visível decadência. De uma beleza natural incomparável, ainda Capital Cultural do País, portão de entrada do turismo internacional e cartão de visita do Brasil, o Rio de Janeiro está pagando um preço muito alto por viver tantas tragédias ambientais. Conseqüência, na maioria das vezes, de má gestão administrativa de seus governantes e da, digamos assim, pouca educação e civilidade de grande parte de seus habitantes. Quem seguiu a série de matérias sobre lixo, publicadas pelo jornal O GLOBO, mostrando que os rios cariocas recebem 800 mil toneladas de lixo e lama ao ano, com certeza não se sentiu bem. 
Como pode um povo despejar armários, fogões, plásticos e até sobra de alegorias do Carnaval nos riachos e canais? 
Como pode um povo sujar tanto sua maior praça de lazer que são as praias? 
Como se pode conviver impunemente com essa cultura da bandalha?
Tudo isso tem seu preço. E muito caro, por sinal.
 
Ímprobos administrativos
 
Em 1996, a Promotora de Justiça Patrícia Silveira da Rosa, Coordenadora da Equipe de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público do RJ, afirmava à repórter Zilda Ferrreira, da Folha do Meio: "No Rio, mais de 70% dos danos ambientais são decorrentes de ímprobos administrativos". Verdade: a decadência é resultado de um total descompromisso com a aplicação de uma política séria em favor do meio ambiente da maioria dos órgãos ambientais do Rio de Janeiro.
Na época, a Coordenação de Proteção ao Meio Ambiente enumerava 92 áreas de alto risco ambiental, desde a refinaria de Manguinhos, o Gasômetro, os paióis de pólvora da Marinha na Ilha de Boqueirão, os armazéns do Porto, a fábrica de munições em Santa Cruz, o lixão do Guamacho, as favelas penduradas nos morros, o depósito de lixo que atingiu os manguezais da Lagoa de Marapendi, as invasões no Jardim Botânico, até os laboratórios farmacêuticos em Jacarepaguá e a terrível obra do emissário submarino. Pois bem: essa semana o laudo da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária acaba de revelar que 70 pilares do emissário submarino estão condenados e o mar de esgoto começa a emporcalhar as belas praias da então Cidade Maravilhosa.
 
Conseqüências
 
Conseqüência número um: 3 bilhões de litros de esgoto ao natural são jogados nas praias da Zona Sul do Rio. Trocando em miúdos: uma Lagoa Rodrigo de Freitas de esgoto está sendo jogada a cada semana nas praias de Ipanema/Leblon.
Conseqüência número dois: o belo litoral carioca está comprometido, banhistas aconselhados a fugirem das praias do Rio de Janeiro e turistas estrangeiros cancelando suas viagens.
Conseqüência número três: o desconforto, o aparecimento de focos de doenças, a queda da auto-estima do carioca, o turismo trazendo menos dinheiro, o aumento do desemprego, o que, cá prá nós, tudo isso vai fazendo o Rio de Janeiro perder a graça.
 
Tem esperança?
E resta esperança? Evidente! E a esperança está na educação e na conscientização da população sobre seus direitos, exigindo das autoridades competência em administrar os recursos públicos. Mais do que isso: quando cada cidadão começar fazer sua parte, denunciar ao Ministério Público os danos ambientais e impetrar, por meio de associações e ONGs, ações na Justiça com base na lei 6.938/81, pedindo a reparação de danos e punição dos culpados, com certeza tudo vai melhorar. Muda o próprio cidadão e mudam os administradores públicos. 
O homem, com sua incrível capacidade de construir ambientes e se adaptar a eles, inventou as cidades. Mas quanto maior o desequilíbrio ambiental das cidades, tanto maior o desconforto, as doenças, o mau cheiro, a fome, a violência e as mortes. Só há um segredo para manter a qualidade de vida nas cidades: muita educação e muito planejamento. Fora isso, é o caos. E a escolha por um bem-viver está nas mãos de cada um. Quando? Simples: quando se evita o desperdício, quando se joga o lixo no lugar certo, quando se respeita as leis do trânsito, quando se exige os próprios direitos. Mas não se esqueça: quando ficar frente-a-frente com uma urna eleitoral, para escolher seus representantes nas assembléias e no governo, não titubeie. Faça-o com consciência e responsabilidade. E mais: faça marcação cerrada sobre os eleitos. Exija, reclame, pressione, denuncie. Cidadão é o que cumpre com seus deveres e exije seus direitos. A vida para ser bem vivida precisa ser bem administrada.
 
Para contactar o Ministério Público: Rio de Janeiro: (021) 550-7171 / 7170, Fax: (021) 550-7174 
em Brasília: (061) 343-9551 / 9557, Fax: (061) 343-9650