A SENHORA DAS FLORES

18 de julho de 2013

Desde o berço até a sepultura, as flores desempenham importante papel na nossa vida como espetáculo, como inspiração e como consolo. Quando criança, ela arrancava os botões. Quando adolescente, brincava de bem-me-quer com as pétalas. Quando adulta, ofertava flores para as pessoas.   Com flores nas mãos, ela passava sorrindo a todos. Avivava as faces… Ver artigo

Desde o berço até a sepultura, as flores desempenham importante papel na nossa vida como espetáculo, como inspiração e como consolo. Quando criança, ela arrancava os botões. Quando adolescente, brincava de bem-me-quer com as pétalas. Quando adulta, ofertava flores para as pessoas.

 

Com flores nas mãos, ela passava sorrindo a todos. Avivava as faces doloridas e causava surpresa pelo gesto praticado, abrindo brechas nos sentimentos alheios. Estava sempre pronta a entregar flores e nem sempre, entre a esperança e o desespero, as pessoas estavam prontas para recebê-las.
Percorria os quatro cantos da cidade sempre encontrando um novo caminho. Parecia que a caminhada dos bons e maus momentos nunca tinha fim. As flores que entregava eram de todas as estações e pareciam adequadas para cada ocasião.
Não pedia nada em troca, mas recebia elogios, impropérios e designações escabrosas. Sua morada e sua vivência eram incógnitas, assim como seu trajar mostrava uma rudeza existencial incompreensível. Dela, ninguém precisava saber de nada, apenas que recebessem as flores repletas de histórias era o mais importante.
E as flores? De onde vinham as flores? Outra incógnita. Ela tinha mais incógnitas do que flores. As flores eram renovadas diariamente, mas as incógnitas permaneciam e muitas delas, apesar de ultrapassadas, continuavam vivas e resplandecentes.
Tornara-se uma figura folclórica e sem qualquer configuração cultural, eternizando momentos considerados desnecessários. Quem conseguiria adivinhar os conceitos aplicados após o recebimento das flores?
Com o passar do tempo suas caminhadas e ofertas foram perdendo a assiduidade. Não pela escassez das flores, mas pela escassez da energia e da jovialidade.
Disseram recentemente que ela havia falecido e que fora sepultada como indigente. 
Disseram elegoricamente que as cortinas descerraram as apresentações de sua vida. 
Disseram que com flores nas mãos, ela seguiu até sua última morada e que ninguém a acompanhou.
Não parou de caminhar, porque sua vida era semelhante a um jardim. Realiza um breve repouso para retornar em novo desabrochar, já que as sementes estavam em suas mãos.
 
"Estava sempre pronta a entregar flores e nem sempre, entre a esperança e o desespero, as pessoas estavam prontas para recebê-las."