Johannes Eugenius Bülow Warming 

Guimarães Rosa, Peter Lund e as plantas do Cerrado

18 de julho de 2013

      BOX   EUGEN WARMING     UM CONTO DE GUIMARÃES ROSA PARA RELEMBRAR OS VIAJANTES PESQUISADORES, COMO PETER LUND               Seo Alquiste, provavelmente o cientista Peter Lund, maravilha-se com a profusão de plantas em um país tropical, bem diferente da monótona vegetação de sua terra natal,… Ver artigo

 
 
 
BOX
 
EUGEN WARMING
 
 
UM CONTO DE GUIMARÃES ROSA PARA RELEMBRAR
OS VIAJANTES PESQUISADORES, COMO PETER LUND
 
 
 
 
 
 
 
Seo Alquiste, provavelmente o cientista Peter Lund, maravilha-se com a profusão de plantas em um país tropical, bem diferente da monótona vegetação de sua terra natal, a Dinamarca.
Guimarães Rosa
 
 
 
 
 
 
É oportuna a transcrição dos trechos em que Eugênio Andrade Goulart, médico dissidente e escritor cada vez mais assumido, no premiado livro “O viés médico na literatura de Guimarães Rosa” lançado pela Editora da Faculdade de Medicina da UFMG, comenta as referências feitas ao personagem e seu gosto pelas plantas do cerrado. E do trecho em que relembra a crônica de Nelson Rodrigues sobre a morte do escritor.
 
O recado do “seo” Alquiste
 
Guimarães Rosa, no livro “No Urubuquaquá, no Pinhém”, no conto “O recado do morro”, criou um personagem, seo Alquiste, que tem todas as características do naturalista dinamarquês Peter Lund. Era míope, louro, pele muito branca e se interessava por todos os detalhes da natureza, como plantas, bichos, pedras e grutas. Nesse conto, Rosa deixa explícito tal vínculo ao se referir à gruta do Maquiné, que identifica como próxima a Cordisburgo, como uma lapa ‘lundiana’. De fato, Peter Lund veio da Dinamarca para o Brasil por medo da tuberculose, que tinha vitimado vários de seus familiares. Tornou-se o pai da paleontologia brasileira e, suas atividades nessa área científica principiaram na gruta do Maquiné, situada a cinco quilômetros de Cordisburgo. Isso ocorreu no ano de 1835, quando a pequena vila ainda tinha o nome de Vista Alegre. 
Seo Alquiste, provavelmente o cientista Peter Lund, maravilha-se com a profusão de plantas em um país tropical, bem diferente da monótona vegetação de sua terra natal, a Dinamarca.
 
Beleza e  riqueza da biodiversidade
do Cerrado brasileiro
 
“Ao dito, seu Olquiste estacava, sem jeito, a cavalo não se governava bem. Tomava nota, escrevia na caderneta, a caso, tirava retratos. A gameleira grande está estrangulando com as raízes a paineira pequena! – ele apreciava, à exclama. Colhia com duas mãos a ramagem de qualquer folhinha campa sem serventia para se guardar: de marroio, carqueja, sete-sangrias, amorzinho-seco, pé-de-perdiz, joão-da-costa, unha-de-vaca-roxa, olhos-de-porco, copo-d’água, língua-de-tucano, língua-de-teiú. Uma hora, revirou de correr atrás, agachado, feito pegador de galinha, tropeçando no bamburral e espichado tombo, só por ter percebido de relance, inho e zinho, fugido no balango de entre as moitas, o orobó de um nhambu”.
 
 
Cerrado medicinal
O marroio é considerado como expectorante e diurético; a carqueja é usada para diarréia e má digestão; a sete-sangrias, cujo nome deriva da antiga prática médica de fazer sangria – e o chá dessa planta equivalia a sete delas -, é usada para diarréia; a unha-de-vaca pode ter algum benefício no diabetes. Outras plantas citadas no texto anterior são nomes regionais de difícil identificação. (Páginas 105/106)
(…) No conto, é o curioso seo Alquiste, ou Olquiste,  que se interessa por todo tipo de plantas e de bichos. Na vida real, Lund era também míope e pesquisou por vários anos uma grande área da região central de Minas, em torno do Morro da Garça, onde transcorre o referido conto.
“Seguindo-o, a cavalo, três patrões, entrajados e de limpo aspecto, gente de pessoa. Um, de fora, a quem tratavam por seo Alquiste ou Olqueste – espigo, alemão-rana, com raro cabelim barba-de-milho e cara de barata descascada. O sol faiscava-lhe nos aros dos óculos, mas, tirados os óculos, de grossas lentes, seus olhos se amaciavam num aguado azul, inocente e terno, que até por si semblava rir, aos poucos, se acostumando com a forte luz daqueles altos”. (Página 114)
O polêmico escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, que já criticara publicamente Rosa algumas vezes, a ponto de descrevê-lo ironicamente como orgulhoso, pedante e excessivamente vaidoso, prestou-lhe sinceras homenagens depois de comparecer ao seu enterro. Escreveu logo em seguida que Guimarães Rosa seria para ele um ‘quase desafeto’ e que tocou seu ‘íntimo e inconfesso pântano’, e que sua morte proporcionou-lhe ‘um alívio, uma brusca e vil euforia’, uma vez que, enquanto vivo, a todos ‘agredia e humilhava com a sua monumental presença literária’.
 
 
 
UNHA-DE VABA, para diabetes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CARQUEJA, para diarréia e má digestão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARROIO, Exéctorante e diurético

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SETE-SANGRIAS  deriva da antiga prática médica de fazer  sangrias