Editorial

20 de maio de 2014

Pensando grande em Rio Acima Antes de se eleger em 2012, ao fim de uma campanha eleitoral que custou pouco mais de R$ 12 mil, na maior parte do próprio bolso, o prefeito Antônio César Pires de Miranda Junior, do PR, era mais conhecido como empresário do que como político. Agora, revelou-se competente nas duas… Ver artigo

Pensando grande em Rio Acima

Antes de se eleger em 2012, ao fim de uma campanha eleitoral que custou pouco mais de R$ 12 mil, na maior parte do próprio bolso, o prefeito Antônio César Pires de Miranda Junior, do PR, era mais conhecido como empresário do que como político. Agora, revelou-se competente nas duas áreas, ao oficializar o tombamento municipal do Conjunto Histórico, Arquitetônico, Natural, Arqueológico e Paisagístico do Gandarela, em Rio Acima. 

Nascido em Belo Horizonte, o prefeito Junior da Geloso, como se tornou conhecido pelos 9 mil moradores de Rio Acima, é um dos donos da maior fabricante de gelo em Minas e da tradicional Pizzaria Mangabeiras, na capital. Seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral, há dois anos, era de aproximadamente R$ 2,4 milhões, contra os R$ 165,4 bilhões registrados pela Vale no primeiro trimestre deste ano. 
Faz sentido a comparação entre os dois patrimônios. O tombamento de 11.269 hectares da Serra do Gandarela localizados em Rio Acima relembra a luta entre David e Golias. 
A medida assinada pelo novo David ameaça um projeto de R$ 4 bilhões, valor trombeteado pelo gigante da mineração que, de fato, cobiça o tesouro de uma serra situada no centro do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, a aproximadamente 50 quilômetros da capital. 
O minério é o alvo, mas a serra tem outros tesouros. Ela abriga a segunda maior reserva de Mata Atlântica de Minas e meia centena de grutas e cavernas, ricas em fauna e flora. Mas sua principal riqueza é a água. Para protegê-la, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade tenta criar o Parque Nacional da Serra do Gandarela. O tombamento se apresenta como estímulo ao projeto do ICMBio e jamais ao da Vale.  
 
Os defensores do parque têm dificuldade para traduzir em dinheiro um valor intangível, como é a paisagem natural e o bem-estar de milhões de pessoas e a vida de animais que não se acham à venda no mercado. 
E quanto valerá a água do Gandarela ameaçada pela mineração? Provavelmente, ela vale bem mais que os R$ 4 bilhões que a Vale ameaça não investir, se prevalecer esse projeto do parque.
O certo é que água doce será cada vez mais valiosa e sua falta no Gandarela afetará moradores de Belo Horizonte e cidades próximas. Em Rio Acima, a água já é um problema, pois a única estação de tratamento foi construída em 1979 e a rede existente não chega a todas as residências. 
A prefeitura está em busca de um empréstimo de R$ 3 milhões, necessários para garantir o abastecimento de água até 2030, ano em que ela estima que, sem a mineração, a cidade terá 11 mil moradores e contará com uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, além da renda do turismo de lazer e ecológico. 
A demonstrar que o empresário que defende a serra pensa grande e tem, como prefeito, a visão de longo prazo.  
José de Souza Castro