Série Expedição Parnaíba Vivo [2]

As sementes do aviador

25 de julho de 2014

“Tenho lá em casa uns pés de seriguelas e pitangueiras que produzem o ano todo. Então vou juntando as sementes, e quando saio por estes ermos, reduzo a velocidade, abro a janelinha, e vou lançando as sementes. Creio que assim já fiz bons pitangueirais e seriguelais lá embaixo”.   Comandante Monteirinho        … Ver artigo

“Tenho lá em casa uns pés de seriguelas e pitangueiras que produzem o ano todo. Então vou juntando as sementes, e quando saio por estes ermos, reduzo a velocidade, abro a janelinha, e vou lançando as sementes. Creio que assim já fiz bons pitangueirais e seriguelais lá embaixo”.
 
Comandante Monteirinho
 
 
 
 
Geraldo Gentil Vieira
 
 
"O primeiro pedido da criação do Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba"
 
 
De repente o comandante Monteiro anuncia: “Vejam lá as cidades de Alto Parnaíba e Santa Filomena com o rio Parnaíba ao meio”. Mais alguns minutos ele volta a falar: “vamos anunciar a chegada, o povo do interior gosta de ver o avião passar sobre suas cabeças”. É muito espirituoso e simpático o comandante. Após alguns volteios e rasantes e já estamos na pista de terra, o pequeno campo de pouso apinhado de pessoas do lugar. Ali nos esperando o geógrafo Costa e Silva e a engenheira agrônoma Valmira Mecenas, maranhenses da gema que, junto com Paulo Brum, construíam o documento de criação do parque.
Dali fomos diretos sob 40º para a audiência pública num clube de campo. Data: 17 de abril de 2001. Entre discursos ambientais e assinaturas de manifestos como a Carta do Parnaíba. Presentes o ministro Sarney Filho, do Meio Ambiente, governadores, prefeitos, a prefeita Raimunda, a comunidade em peso. 
 
Velho Monge
O idealizador do encontro e da expedição levanta e fala. É o juiz de direito doutor Marlon Reis. Lê a Carta pedindo a criação do Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba e medidas para o pobre povo parnaibano melhorar seu padrão de vida, porém sem esquecer do rio. Refere de passagem à campanha local em que todos os pássaros das gaiolas foram soltos através de campanha de conscientização. O presidente do Centro de Defesa das Nascentes do Parnaíba e pessoas da comunidade pedem a palavra: a criação do parque e a salvação do Velho Monge, é assim que o parnaibano chama seu rio.
 
Início da expedição até o delta do Parnaíba
Rui Junqueira prosseguiu viagem para Teresina, o Monteirinho sobrevoando baixo aqueles meandros sem fim. Eu permaneci para participar de uma expedição até o delta no oceano, 1.300km rio abaixo. Passada a chuva forte, recebo minha bagagem, eu a perdera no aeroporto quando cheguei, ficara dentro de uma van que fazia os traslados. Resgatada pelo prefeito Ernani, de Santa Filomena, eu a recebi das mãos do Adão da prefeitura; ia por engano para São Luiz no avião do ministro, e assim esse problema incômodo de percurso foi resolvido. Extravio de malas em Alto Parnaíba!
Desci até as margens, estava curioso para conhecer o Velho Monge. Percebi que estava começando a conhecer um rio bravio e selvagem. Cheguei pela praça de altas palmeiras que leva ao pequeno porto, lá estava ele caudaloso e turbulento, barrento, nascera nas alturas, nas esponjas do cerrado, a bela savana brasileira. 
 
O barco-pesquisa
Amarrado e atracado ao cais, lá estava um barco achatado, metálico, branco com fortes cores vermelhas, já com algumas faixas e slogans ambientais, sacolejando nas águas: é o PIPES, sigla de Pedro Iran Pereira do Espírito Santo, um empresário quase mito, espécie de armador fluvial brasileiro. Suas empresas tem sede em Carolina, Maranhão. 
Atracado na outra margem, um barco-pesquisa que realiza levantamentos de navegabilidade ao longo do rio. Algumas faixas saudavam o evento de cá e de lá do rio onde fica o cais de Santa Filomena. Alguém vestia uma camiseta com uma legenda nas costas: “Stop! The environment impact along brasilian rivers”.
A noite caiu pesada sob chuva torrencial. Estou na pousada da Dona Bahia, que recebe como nos bons e velhos tempos, à moda maranhense: “o senhor quer rede ou cama?” Digo “quero os dois, minha senhora, estou muito cansado…” mas “primeiro quero um banho, depois caio na rede e mais tarde no reggae maranhense!”. 
Antes de sair, um jantar à mesa tão delicioso que ainda sinto o gosto da galinha de cabidela, arroz branco e farofa. Uma tranquila pousada rústica naquele lugar ecológico. O pé-direito sobe a cinco metros de altura e as telhas são de calha de paiol, ali dentro não faz calor.
E foi com o reggae nos ouvidos e sonhando com o Parque das Nascentes e outro no Deserto Vermelho de Gilbués, tipo Grand Canyon, que dormi minha primeira noite parnaibana, ouvindo na alta madrugada uma sinfonia de cantos de galos…