Editorial

Mineradoras: ambição e omissão

16 de dezembro de 2015

Ao longo de seus 26 anos, a Folha do Meio Ambiente tem mostrado quão perversas são as ações e as intervenções nada sustentáveis das mineradoras. Todos sabemos que o reino mineral, que abrange 350 espécies minerais distintas, é fundamental para a sociedade. Aliás, vale lembrar que as fases da evolução humana são divididas de acordo… Ver artigo

Ao longo de seus 26 anos, a Folha do Meio Ambiente tem mostrado quão perversas são as ações e as intervenções nada sustentáveis das mineradoras. Todos sabemos que o reino mineral, que abrange 350 espécies minerais distintas, é fundamental para a sociedade. Aliás, vale lembrar que as fases da evolução humana são divididas de acordo com as descobertas minerais: Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro. 
Mas tem um senão: na mesma proporção que os minerais têm significativa importância na vida dos seres humanos, há uma certa benevolência dos governos e da sociedade com a prática da mineração. 
Se nenhuma sociedade pode prescindir do uso dos recursos minerais – pois são eles que fornecem as necessidades básicas como moradia, vestuário, transporte, rodovias, equipamentos e até alimentação – a indústria mineradora está extrapolando no abuso de uma atividade predatória e pouco sustentável.
A atividade mineradora por si só é agressiva ao meio ambiente. Como não são obedecidas as regras da sustentabilidade e como os órgãos de fiscalização não monitoram com rigidez as ações das mineradoras, vive-se um mundo de “tragédias anunciadas”. Tal qual aconteceu dia 5 de novembro, em Mariana, com o  rompimento de duas barragens da mineradora Samarco,  no distrito de Bento Rodrigues.
Sempre lembramos o caso de Açailândia (MA), que em 1985, com a inauguração da ferrovia para transportar minério de ferro da gigantesca de Carajás, tornou-se  um polo siderúrgico. Atualmente, com cinco unidades de produção de ferro gusa lideradas pela VALE, a região é considerada “o inferno siderúrgico na Amazônia” onde a terra, o ar e a água estão cada vez mais poluídos. 
A Justiça já reconheceu os fortes impactos ambientais e sociais sobre algumas comunidades de Açailândia. E para agravar a situação, a busca insana do carvão vegetal para alimentar as caldeiras das siderúrgicas fez de Açailândia um foco de desmatamento e trabalho escravo. 
E tem um outro aspecto que precisa ser lembrado. Se as mineradoras estão poluindo o solo, o ar e água que estão na superfície (e que a gente vê) imagina só o que a gente não vê. O caso do desastre ambiental de Mariana é bem isso: todo mundo vendo: fiscalizadores federais, estaduais, municipais acompanhando. Autoridades dos municípios próximos vendo. E os donos das empresas fazendo gestão temerária. Pois é, se aos olhos de todos, a mineradora Samarco faz o que faz, imagina quando o câncer das mineradoras está escondido nas profundezas da terra. Exemplo: a poluição dos lençóis freáticos e o uso e abuso das águas dos aquíferos para os minerodutos. Sim, os minerodutos sugam milhões de litros de água do subsolo sem que a população e as autoridades percebam. Os dutos de minério dão mais agilidade e muito mais lucro para as mineradoras. Enquanto isso, os aquíferos vão secando, os mananciais vão secando e as nascentes, infelizmente, também vão se definhando.
Urge que a indústria mineral se modernize e que o controle se torne mais efetivo e sustentável.  
A vida animal e vegetal correm perigo. 
Silvestre Gorgulho