DIA DA SÍNDROME DE DOWN

A EFICIÊNCIA DOS DEFICIENTES

21 de março de 2024

21 DE MARÇO – DIA DA SÍNDROME DE DOWN Por Daniel de Miranda e seu pai Evaristo de Miranda Daniel, formado em comunicação youtuber: @Downnews21 e seu pai Evaristo é doutor em ecologia www.evaristodemiranda.com.br Sou Daniel de Miranda. Eu sou Down e meu pai é deficiente. Sim, há alguns anos, meu pai tornou-se deficiente. Passou… Ver artigo

Por Daniel de Miranda e seu pai Evaristo de Miranda

21 DE MARÇO – DIA DA SÍNDROME DE DOWN

Por Daniel de Miranda e seu pai Evaristo de Miranda

Daniel, formado em comunicação youtuber: @Downnews21

e seu pai Evaristo é doutor em ecologia

www.evaristodemiranda.com.br

Sou Daniel de Miranda. Eu sou Down e meu pai é deficiente.

Sim, há alguns anos, meu pai tornou-se deficiente. Passou a usar óculos. Agora, pertence aos deficientes visuais. Como os óculos, eles apresentam vários graus. Quem Deus agracia com uma longa vida – 80, 90 ou mais anos – torna-se aos poucos um deficiente sensorial, motor e mental. A deficiência está inscrita na vida. Com os anos perde-se a acuidade dos sentidos, mobilidade e força física enquanto declina a memória e agilidade mental.

MUDAR O AMBIENTE E NÃO OS DOWNS

No Dia Internacional da Síndrome de Down cabe entender a diferença e o diferente como fonte de diversidade e riqueza. Isso é o oposto do modelo deficitário e preconceituoso, proposto pela sociedade e no sistema educacional. Passar do preconceito, da indiferença, do cuidado “caritativo” ao respeito a integridade e alteridade do Outro. Caminhar de uma cultura da deficiência, como algo limitante e limitativo, para a cultura da diversidade, valorizadora das diversas formas de ser, pensar, conhecer e agir em sociedade. Uma sociedade com princípios de humanidade.

SEM PRECONCEITOS: SOMOS TODOS HUMANOS

O Tribunal de Nuremberg condenou os médicos nazistas pela prática do eugenismo. Sob o impacto do Holocausto, a sentença proclamou a indivisibilidade da pessoa humana. Não existem graus de humanidade ou pessoas mais ou menos humanas. Nem sub-homens ou super-homens. O mendigo é tão humano quanto o príncipe. Um deficiente mental é tão humano quanto um prêmio Nobel.

Ninguém pode decidir se a vida de outra pessoa vale ou não ser vivida, ou o que pode aprender, estudar ou desenvolver. Ninguém pode definir as capacidades do outro num sentido deficitário, reducionista e aniquilante.

DEUS, CONTA COM OS DEFICIENTES?

Na Bíblia, Deus escolhe para missões divinas, pessoas aparentemente limitadas ou desqualificadas. Moisés, deve falar ao faraó: era gago. Jacó conduzirá a marcha de seu povo: era coxo. Davi, será sagrado rei: era o menor e mais frágil dos filhos de Jessé. Nessa escolha real, o profeta Samuel afirma: Aqui não se trata do que os homens vêem: os homens vêem aquilo que salta à vista. O Senhor vê o coração (ISm 16,7). Deus não escolhe os capacitados, ele capacita os escolhidos.

A FAMÍLIA, FAZ O NECESSÁRIO?

Nem sempre. A família deveria garantir o desenvolvimento do deficiente. Porventura, o homem ou a mulher podem esquecer sua criança e não amar o filho de sua carne? (Is 49,15).

Em Campinas, “os Down” são alfabetizados, estudam profissões, concluem cursos universitários. Alguns não. Se comunicam em redes sociais. Estão no mercado do trabalho. Alguns não. Vivem em relativa autonomia e alguns até casam-se. Como pode haver jovens “com Down” analfabetos? A culpa não é deles. Como um jovem pode inserir-se socialmente e ter um mínimo de autonomia se não sabe ler e escrever? Se não consegue tomar um ônibus ou não tem celular? Hoje, socialmente, um jovem não existe sem celular.

ESCOLA É INCLUSÃO SOCIAL

Estudei no Liceu, Escola do Sítio, Coração de Jesus e ESAMC. Escola é inclusão social. Não se trata de adaptar curriculum ao deficiente e sim de construir um modelo pedagógico onde todos aprendem. Não se deve centrar a educação no deficiente, mas na qualidade do ambiente. Implica mudar para melhor: família, escola, igreja e sociedade. Não basta aceitar o deficiente na escola, para ficar no fundo da classe brincando com lápis coloridos enquanto colegas estudam história, geografia e gramática. Para superar modelos de ensino deficitários é necessário planejar para o futuro e não para o atraso.

SER DOWN NÃO É PROBLEMA

Portadores de deficiência não são nem têm problemas, e sim, circunstâncias. Devem ser levadas em conta e valorizadas positivamente. A inclusão é um processo para transformar a escola. Partir do princípio: todas as pessoas aprendem. Existem diversas formas de aprender e ensinar. O desafio é saber ensinar, sem exclusão. Profissionais da educação precisam reciclar-se, atualizar-se nos princípios e prática da inclusão. Apostar na capacidade de mudança e reprofissionalização dos docentes.

OUÇAM O QUE OS DOWNS TÊM A FALAR

Mudanças inclusivas devem ocorrer já. Não necessitam grandes meios e sim mentes criativas e espíritos generosos. Escolas da periferia (vidros e carteiras quebradas, baixos salários) praticam a inclusão. Confia-se na competência dos portadores de deficiência quando o ambiente lhes é favorável: trabalho solidário e cooperativo, busca de soluções conjuntas entre família e escola. Mudam-se os modos de funcionamento familiares e escolares com sonho, criatividade, apoio mútuo, dividindo responsabilidades. Um modelo cooperativo e não competitivo.